A celebração da Cavalhada

Texto e fotos: Ahmad Jarrah e Bruna Obadowski

Uma das principais tradições brasileiras mobiliza a cidade de Poconé, berço do pantanal mato-grossense. As bandeiras azul e vermelha marcam o início de mais um ano de celebração de fé e cultura. Registros documentam que a Cavalhada chegou ao Estado em 1769, de origem portuguesa se fixou em Poconé como um ato de louvor aos santos padroeiros e encena torneios medievais aos moldes europeus nas grandes arenas.

O ritual é representado por uma disputa entre mouros e cristãos, pela rainha moura sequestrada e é inspirado em grandes narrativas mundiais, como as Cruzadas e Tróia. A rainha é o centro da narrativa, e no decorrer da encenação recompensa os cavaleiros que conquistam cada disputa.

Já é início do período da seca, mas há pelo menos seis meses o ritual está sendo preparado, para acontecer em um domingo do mês de junho. É um dia especial para todas as famílias que carregam essa tradição durante séculos. O locutor anuncia os cavaleiros remetendo a toda sua árvore genealógica, pais, avós maternos e paternos, bisavós que costuram, ao longo da história, essa cultura com suas próprias vidas.

Os doze cavaleiros de cada grupo são acompanhados por pajens, crianças até oito anos de idade que iniciam na tradição, muitas vezes guiadas pela família. O sentimento de orgulho e exultação por fazer parte da festa, por protagonizá-la no centro da arena, com uma bela e singular vestimenta, ao lado dos cavalos ricamente ornamentados com as cores dos grupos, empunhando as lanças dos cavaleiros. O repique da caixa marca o ritmo das disputas.

O trote dos cavalos pantaneiros levanta a poeira na arena, que produz um poético efeito visual com a forte luz do sol, em um típico dia de calor escaldante no centro-oeste brasileiro e também com as cores vermelha e azul turqueza que pintam o local. Cavaleiros percorrem de um lado a outro as provas, enquanto a dramatização que levará mouros a se converterem ao cristianismo é encenada.

A torcida também se envolve com a festa, sempre manifestando fé e devoção, vestidos com roupas típicas pantaneiras, caminhando com botas de couro, debaixo de grandes chapéus. O restante das pessoas tenta se proteger do sol embaixo de tendas, o que não tira a euforia de torcer e inclusive provocar a torcida adversária. Ao final da Cavalhada, um lenço branco é erguido pelos cavaleiros, em sinal de paz, independente de qual grupo tenha ganho a disputa.

Trata-se, para além da tradição, fé e cultura, um festejo que movimenta a economia da cidade com a presença de muitos turistas, aquecem o movimento do comércio local, de hotéis e serviços, gerando emprego e renda para muitos moradores.

Ao final do dia, apesar da exaustão, é possível perceber o sentimento de gratidão a aquecer o desejo pela próxima Cavalhada.

Inscreva-se
Receba as últimas atualizações em seu email