Penitentes

Cultura e religiosidade: a fotografia de Guy Veloso em seu livro “Penitentes”

Texto: Bruna Obadowski

Foram quase duas décadas viajando por 13 estados brasileiros para registrar os rituais dos penitentes, irmandades secretas e místicas que durante a Quaresma e a Semana Santa saem à noite em procissão rezando pelos espíritos sofredores. Assim, o fotógrafo paraense Guy Veloso concluiu e lançou seu livro “Penitentes”.

Com uma estética particular do fotógrafo, o livro transcende a narrativa documental tradicional, adaptando e criando novas formas visíveis ao mundo, à cultura e à religiosidade.

O livro é resultado da pesquisa visual de Veloso, lançada em fevereiro de 2020. Intitulado Penitentes – dos ritos de sangue à fascinação do fim do mundo, a obra foi editada pela Tempo d’Imagem e está disponível online para os leitores e apreciadores de seu trabalho.

Ao falar sobre o trabalho à revista Zum, do Instituto Moreira Salles, Guy Veloso contou sobre o inicio de sua sua pesquisa. “Na romaria de Juazeiro do Norte (CE), em 1998, vi umas 15 pessoas com mantos azuis e cruzes bordadas nas costas que, embora católicos, tinham práticas, crenças e rituais próprios. Eram os Aves de Jesus, o primeiro grupo de penitentes que tive contato. Mas só em 2002 resolvi aprofundar o estudo, buscando organizações similares em outros estados do nordeste, quando fiz meu primeiro ensaio na Semana Santa, em Sergipe. Em 2009 expandi para o restante do país. Tive a sorte de ser o primeiro pesquisador a provar a existência desta tradição (também conhecida como “Encomendação das Almas”) nas cinco regiões do Brasil”.

Irmandade em cerimônia de autoflagelação pela primeira vez documentada. Sexta-feira Santa, cemitério do povoado Lagoa, distrito do Salitre, zona rural de Juazeiro-BA, 2014. Digital. Legenda do livro.
Joaquim Mulato de Souza, agricultor e “santeiro” (escultor de imagens católicas), então com 84 anos, foi desde 1944 até seu falecimento em 2009 “decurião” (chefe) da Ordem dos Penitentes da Santa Cruz. Mulato exibe o “silício”, cordão de ferro com pontas agudas usado na barriga ou nas coxas para autoimolação. Contou ele que o objeto foi presenteado ao líder anterior do grupo pelo próprio Padre Cícero. Legenda do livro.

O livro do fotógrafo segue disponível online em PDF para download. Guy Veloso (1969) nasceu e trabalha em Belém. Formou-se em direito e é fotógrafo desde 1988. Participou da 29ª Bienal de SP (2010)  e da 4ª Bienal das Américas, em Denver (2017).


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