Memórias e Cantos para o amanhã

Texto: Henrique Santian e Bruna Obadowski
Fotografias e vídeo: Henrique Santian
Música: Paulo Monarco

Muitos trabalhos artísticos se tornam imprescindíveis para narrar a essência de nossa cultura. Um desses trabalhos é, sem dúvida, o de tornar visíveis diferentes realidades por meio do áudio/visual. Esse é o caminho escolhido pelo fotógrafo e videomaker Henrique Santian e o músico e produtor musical Paulo Monarco, que lançam juntos a série de contos visuais: Memórias e Cantos Para o Amanhã. A série vem com o objetivo de compartilhar livremente suas vivências e experimentações no mundo de imagens, áudios e narrativas possíveis. 

Cada conto visual revela uma narrativa que toma forma a partir do hibridismo do olhar documental, do som, da paisagem sonora e de performances e ações. São pontes entre linguagens e expressões artísticas.  O projeto foi lançado em meio a pandemia por coronavírus, por meio do edital Cultura em Casa, aprovado pela secel/MT. 

Neste primeiro conto visual, os artistas expressam em metáforas a presença ancestral do fogo, contadas e cantadas com o povo Wauja do Alto Xingu, Mato Grosso Brasil. Na fala inicial do vídeo, Pyrathá Wauja destaca a importância de seu território na preservação do meio ambiente:

Estamos com medo desse fogo das queimadas criminosas, que destroem nossas florestas e bichos.
Nós povos indígenas precisamos resistir.
Não vamos deixar que esse governo continue fazendo isso com nosso povo.
O povo que nos apoia está com a gente, para que nada de mal aconteça.
Acreditamos em um mundo onde podemos viver sem destruir.
Precisamos preservar nossas vidas e nos unir por um mundo sem ódio.

As flautas sagradas e as evocações cantadas ritualisticamente pelos Wauja nos fazem perceber suas essências ancestrais até hoje cultuadas tradicionalmente. Os cantos e evocações se diluem criando imageticamente diversas conexões. Paulo Monarco surge como uma espécie de mensageiro deste conto, cantando em metáforas, interpreta as canções, Senhor do Tempo (Kleuber Garcêz) e AltanaMira (Rafa Barreto).

“Senhor do tempo
curandeiro
sabedouro
sedutor
dos elementos
dos sentidos
dos instintos
do amor”
———————–
“Xipaya, Kuruaya, Juruna, Kayapó
Xikrin do Cateté, Trincheira Bacajá”

O som que estala, ainda queima o Alto Xingu. A consciência é anunciada novamente por Pyrathá para reforçar o pensamento pacífico do povo Wauja:

Nós povo Wauja da aldeia Piyulaga do Alto Xingu, Mato Grosso, ficamos muito preocupados com tudo que vem acontecendo de uns tempos pra cá. Com a chegada da pandemia do Covid-19, o mundo está percebendo que a vida está sendo ameaçada e que precisamos nos unir como humanidade. As queimadas apoiadas pelo governo só crescem e vivemos ameaçados aqui na floresta.  Queremos falar para esse governo que nós só queremos paz. Aprendemos com os espíritos da mata que o tempo é a cura e precisamos perceber os sinais.

A mensagem trazida pelos Wauja nos fazem refletir, neste momento em que vivemos em meio a esta pandemia por coronavírus as queimadas criminosas praticadas para invasão de terras indígenas em todo Brasil. A voz final que encerra este conto visual é de Maria Rita Stumpf, onde recria uma versão de sua canção Cântico Brasileiro nº3, contextualizando o povo Wauja;

Wauja no Xingu quer falar
Wauja no Xingu quer Terra
Wauja no Xingu quer Terra

Memórias e Cantos para o Amanhã
Santian e Monarco dedicam o conto visual aos WAUJA e também para todos os povos originários do Brasil.

Na fotografia: Henrique Santian e Paulo Monarco

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