Segundo relatório, medidas atuais são insuficientes para enfrentar as mudanças climáticas; Ações com auxílio do conhecimento científico, indígena e local, além de justiça climática também constam no documento
Bruna Obadowski/A Lente
Fotografia de capa: Ahmad Jarrah
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), divulgou nesta segunda-feira (20) o relatório síntese do seu atual ciclo de avaliações sobre o aquecimento global provocado pelo homem. O relatório, aprovado durante uma sessão de uma semana em Interlaken, Suíça, aponta a necessidade de ações climáticas efetivas para evitar o colapso climático do nosso planeta. O documento traz um resumo do conteúdo dos seis últimos relatórios elaborados pelo painel, reconhecido mundialmente como a fonte mais confiável de informações sobre as mudanças do clima.
Segundo o presidente do IPCC, Hoesung Lee, o novo Relatório Síntese ressalta a urgência de tomar medidas mais ambiciosas e mostra que somente ações efetivas e rápidas poderão garantir um futuro sustentável habitável para todos. Para ele, “A integração de ações climáticas efetivas e equitativas não apenas reduzirá perdas e danos à natureza e às pessoas, mas também proporcionará benefícios mais amplos”.
Em 2018, o IPCC destacou a escala sem precedentes do desafio necessário para manter o aquecimento em 1,5°C. Cinco anos depois, esse desafio tornou-se ainda maior devido ao aumento contínuo das emissões de gases de efeito estufa. O ritmo e a escala do que foi feito até agora e os planos atuais são insuficientes para enfrentar as mudanças climáticas.
Mais de um século de queima de combustíveis fósseis, bem como energia desigual e insustentável e uso da terra levaram ao aquecimento global de 1,1°C acima dos níveis pré-industriais. Essa combinação resultou em eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos, que causarão impactos cada vez mais perigosos na natureza e nas pessoas em todas as regiões do mundo. Para se ter ideia, cada incremento de aquecimento resulta em perigos cada vez piores, como ondas de calor mais intensas, chuvas mais fortes e crescimento significativo de eventos climáticos extremos. Espera-se que a insegurança alimentar e hídrica também aumente.
Os pesquisadores também afirmaram que quanto mais os riscos se combinarem com outros eventos adversos, como pandemias ou conflitos, mais difíceis ficarão para serem administrados.
Conhecimentos indígenas e de populações tradicionais são imprescindíveis
Para os pesquisadores do painel, o desenvolvimento resiliente ao clima torna-se progressivamente mais desafiador a cada aumento do aquecimento e isso faz com que as escolhas feitas nos próximos anos tenham um papel crítico na decisão do futuro do planeta. Ainda segundo os apontamentos, para serem eficazes, essas escolhas precisam estar enraizadas em nossos diversos valores, visões de mundo e conhecimentos, incluindo conhecimento científico, conhecimento indígena e conhecimento local, possibilitando soluções localmente apropriadas e socialmente aceitáveis.
Os maiores ganhos em bem-estar podem vir da priorização da redução do risco climático para comunidades de baixa renda e marginalizadas, incluindo pessoas que vivem em assentamentos informais.
Christopher Trisos
Para Christopher Trisos, um dos autores do relatório, mesmo considerando os valores tradicionais, as ações climáticas aceleradas só acontecerão se houver um aumento significativo no financiamento.
Vivemos em um mundo diverso no qual todos têm diferentes responsabilidades e diferentes oportunidades para provocar mudanças. Alguns podem fazer muito, enquanto outros precisarão de apoio para ajudá-los a gerenciar a mudança.
Hoesung Lee
Justiça climática
O relatório apontou a necessidade de justiça climática com urgência, pois os danos continuarão acontecendo, atingindo especialmente as pessoas e os ecossistemas mais vulneráveis.
“A justiça climática é crucial porque aqueles que menos contribuíram para a mudança climática estão sendo afetados de forma desproporcional”, disse Aditi Mukherji, um dos 93 autores deste Relatório de Síntese, o capítulo final da sexta avaliação do Painel.
Quase metade da população mundial vive em regiões altamente vulneráveis às mudanças climáticas. Na última década, as mortes por enchentes, secas e tempestades foram 15 vezes maiores em regiões altamente vulneráveis.
Aditi Mukherji