Dinamite pura: relatório aponta o legado explosivo da política mineral do governo Bolsonaro

Mudanças bruscas na legislação mineral, desmonte de instituições de controle, incentivos ao garimpo ilegal, entrega do patrimônio nacional a grandes empresas transnacionais e práticas racistas contra os povos indígenas e tradicionais foram a tônica da gestão bolsonarista;

Da redação/Bruna Obadowski
Foto de capa: Christian Braga/Greenpeace

Na mineração, nada acontece por acaso ou da noite para o dia. O cenário atual, seja para o garimpo em terras indígenas ou para a grande mineração transnacional, foi estruturado pouco a pouco, escavadeira a escavadeira, trator a trator, via mudanças infralegais, projetos de lei polêmicos e muitas reuniões. Durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi armada uma verdadeira bomba climática brasileira e anti-indígena, é o que aponta o novo relatório “Dinamite pura” do Observatório da Mineração e monitor socioambiental Sinal de Fumaça, lançado nesta segunda-feira (27).

Segundo o relatório, houve um desenfreado desmonte de órgãos regulatórios, além da  violações de direitos, acordos escandalosos e outras medidas adotadas pelo ex-governo para satisfazer o lobby do mercado de minérios no país e no mundo.

Para Rebeca Lerer, coordenadora do Sinal de Fumaça, nos últimos quatro anos, a gestão Bolsonaro foi eficiente em facilitar o acesso a terras e minérios. “A “boiada” passou no setor mineral, ligada ao enfraquecimento do licenciamento socioambiental e ao descontrole no uso da terra, provocando a tragédia humanitária em curso nos territórios indígenas”, declara.

Segundo as investigações do relatório, a cúpula do ex-presidente promoveu mudanças legais e infralegais que beneficiaram grandes mineradoras, fizeram explodir as redes criminosas do garimpo ilegal e colocaram instituições como o Ministério de Minas e Energia e a Agência Nacional de Mineração totalmente subservientes a interesses escusos. 

Maurício Angelo, diretor do Observatório da Mineração e pesquisador do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, aponta que as mudanças bruscas na legislação, a forte incidência do lobby de mineradoras e grupos empresariais do garimpo e a explosão de invasões em territórios indígenas sob a vista grossa do governo chamam a atenção no período de gestão do ex-presidente.

No entanto, segundo dados do relatório, essa bomba climática e antiambiental não pode ser colocada somente na conta de Jair Bolsonaro. O ex-presidente engrossou e deu escala a medidas iniciadas na gestão de Michel Temer e as metas de aumento da participação do setor mineral no Produto Interno Bruto (PIB) dos atuais 3% para até 10%, como foi o objetivo expresso de Bolsonaro e Arthur Lira em articulação com parlamentares e órgãos da administração federal. 

O primeiro escalão do governo Bolsonaro estendeu um tapete vermelho para o lobby mineral em Brasília desde o início da gestão. As consequências para as populações atingidas direta e indiretamente e para o meio ambiente foram trágicas.

Maurício Angelo

De 2018 a 2022, o governo Bolsonaro estreitou alianças com o garimpo ilegal em um movimento inédito na política brasileira, engajando governadores e parlamentares e aceitando apoio de empresários do garimpo.

“O engajamento “bolsonarista” foi tamanho, que ficou ainda mais explícito com a participação de empresários do garimpo no financiamento dos atos terroristas de 08 de janeiro e as ligações com parlamentares vinculados ao garimpo”, revela trecho do documento. As denúncias estão sendo investigadas pelo governo Lula.

Para se ter ideia, George Washington, acusado de tentar explodir um caminhão com querosene no aeroporto de Brasília, foi recebido pelo deputado Joaquim Passarinho (PL-PA), ferrenho defensor do garimpo, um mês antes da tentativa de atentado. Empresários do Pará, Rondônia e Mato Grosso ligados ao agronegócio e ao garimpo financiaram parte dos golpistas. Pecuaristas, garimpeiros e políticos usaram as redes sociais para convocar seguidores de Bolsonaro ao golpismo.

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