Texto: Luiz Marchetti
Fotos: Ahmad Jarrah e detalhes das obras de Rai Reis
O convite ao deslocamento chega a ser uma provocação nas fotografias de RAI REIS.
Esta série reforça um laço-lembrança de pertencimento, de retorno ao lugar que muitos somos/desejamos. Que está ali, próximo; ainda assim, tão longe. Ainda que como um poderoso documentário, oferece uma arma inesperada para nossa atualidade: o respiro.
Pode, hoje, nesta afobação, um inesperado silêncio lembrar que você é feito do que está aí, diante dos seus olhos? É possível que estas fotografias sensibilizem alguém como uma pausa diante do espelho? O quanto dentro destes enquadramentos alimenta a matéria-sonho que habita em sua pessoa?
Com o olhar preciso em seu tempo, Rai Reis registrou estas obras entre 2015 e 2017. Atento à realidade natural, no convívio com a flora de Mato Grosso encontra a forma de expressão artística desta coleção. Ainda que nestas peças possamos entrar em sedutoras paisagens, há em algumas composições um tom misterioso paradoxalmente desdramatizado e seguro de que a neblina no rio, de que os emaranhados dos galhos são simplesmente texturas e luzes para dípticos, trípticos e polípticos coloridos. Essa materialidade é uma conquista, fortalece a ambiguidade em brigar pela causa, porém priorizando atenção à beleza, à delicadeza da sobrevivente.
A honestidade é um dos elementos que mais valorizo na criação contemporânea, o quanto há de verídico numa habilidade autoral. Quem conhece o artista sabe de seus passeios/imersões. Quanta paixão, obstinação criativa em Rai ao carregar maquinário e remar, subir e enveredar para o que vai encontrar. É escultor diante da substância luz, cores e sombras. Constrói o alívio como janela, às vezes em calor escaldante, mosquitos e muita distância.
O que se admira é o que se defende. O inimigo também é local, quem destrói é quem mora/desgasta, abandona. A frontalidade desses enquadramentos é de memória diante de espelho, não apenas observando o tempo, mas como a força da manutenção. Nenhuma das composições de Rai é fictícia, todas lidam com sustentação de vida e seu acelerado desmanche. Às vezes o barco parece imagem de análise, de trampolim pra cura, sempre ressaltando que o que vemos como contingente é o fundamental.
Quando numa parede da sala abre uma paisagem, aparece o cinema de seus olhos. Um oráculo. É hora de voltar pra você.
VOCÊ ESTÁ AQUI
Fotógrafo Rai Reis
Realização Galeria ARTO
30 obras inéditas
Abertura da Exposição 01 de junho as 19h
Período de 01 de junho a 15 de julho
INFO: (65) 3025 2090 e 99202 1164
Apoio Cultural:
Casa de Guimarães | Sala da Mulher- ALMT | Teatro do Cerrado Zulmira Canavarros | Casa das Molduras
Studio Rai Reis (65) 3321 3338 e 99982 4290
Curadoria Luiz Marchetti
CALM Centro Audiovisual Luiz Marchetti (65) 98131 4145
ARTO Galeria
Avenida Dom Bosco 1776, quase esquina com a Av. Ipiranga.
Aberta segunda das 14 às 19hs, de terça a sexta das 09 às 12hs e das 15 ás 19hs,