Texto e fotos: Ahmad Jarrah e Bruna Obadowski
O jornalista Gilberto Dimenstein, fundador do site Catraca Livre, faleceu nesta sexta-feira (29/5), aos 63 anos. Ele lutava contra um câncer no pâncreas desde agosto de 2019. Nós, que temos como referência e inspiração o site e seu fundador, lamentamos sua partida e deixamos nossa homenagem a Dimenstein. Reapresentamos a série “Retratos migratórios: cotidiano de refugiados sírios no Líbano” publicada originalmente no site Catraca Livre em 2016, marcando o início da trajetória do site A Lente.
Retratos migratórios: O cotidiano de famílias sírias refugiadas no Líbano
O percurso em um pais afetado pela maior crise migratória do século revela paisagens sendo rasgadas por centenas de tendas de uma ocupação dramática e desordenada, fruto de uma guerra covarde e cruel. As tendas formam vários acampamentos para refugiados sírios que se estabelecem com certa anomia e atravessam todo o país. Essa condição tornava explícita a necessidade de documentação da vida em meio a esse caos.

A inquietação toma conta à medida que a vulnerabilidade daquelas frágeis instalações vai se revelando. Vielas de areia batida, rede elétrica precária, ausência de saneamento e água encanada. Não há salubridade, tampouco higiene nos acampamentos. Os banheiros são compartilhados e a maioria dos barracos é de chão batido.



Porém, com toda a escassez estrutural, o que mais comove é a precariedade da condição humana expressa no semblante de cada sírio. Despertava então a vontade de retratar o ser humano e a resistência da vida em seu curso habitual.


Um cotidiano singular carregado de sentimentos provocava um turbilhão de sensações. Nos olhares, o desalento ao mirar o horizonte e ainda não conseguir enxergar o que acontecerá logo em frente. O cheiro carrega um aroma amargo da conquista, de sobreviver, mas deixar para trás suas casas, seus familiares, suas vidas. A ingenuidade das crianças é algo que sensibiliza e ao mesmo tempo atormenta. Os sorrisos que fendem rostos marcados pela dor. As cicatrizes visíveis e ocultas que muitas vezes jamais se fecharão.











A angústia de ver uma garota se escondendo do sol escaldante sob a sombra de uma tenda cuja lona é a publicidade de um banco “You can put a value on a house, but not a home” é perturbadora. Outras crianças brincam em um trator abandonado “Estamos voltando para Síria!”, comemoram, em um sonho de terem de volta o seu lar.

Os acampamentos estão repletos de crianças e mulheres em seus afazeres, principalmente transportando garrafas de água de um lado para outro. A sobrevivência financeira dos refugiados depende de uma pequena ajuda do governo e do árduo trabalho nas plantações de batata e nas feiras livres.


