Da redação
Foto de capa: Ahmad Jarrah/ A Lente
O desmatamento do Cerrado nos estados da Bahia, Minas Gerais e Goiás atingiu recordes históricos no mês passado. Segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), divulgados na quarta-feira (15), fevereiro de 2023 foi o mês com a maior área desmatada nesses estados desde que o sistema iniciou o monitoramento. Além disso, a área desmatada em fevereiro foi a maior registrada nos últimos seis meses.
Na Bahia, o bioma teve 22.187 hectares desmatados, um aumento de 227% em relação a fevereiro de 2022, quando foram desmatados 6.778 hectares. Já Minas Gerais desmatou 10.007 hectares, um aumento de 82,5%, ou 4.517 ha, em relação a 2022. Goiás, por sua vez, foi responsável pela destruição de 10.849 hectares de vegetação nativa, um aumento de 69% em relação ao ano passado, quando foram desmatados 6.421 hectares.
Retorno do crescimento
Após a queda registrada em janeiro, fevereiro registrou o desmate de 86,8 mil hectares de vegetação nativa em todo o bioma, um aumento de 86,4% em relação ao mês anterior, quando 46,5 mil ha foram derrubados. Segundo Tarsila Andrade, pesquisadora do IPAM que atua no SAD Cerrado, os dados precisa ser analisados com cautela.
É preciso analisar com cautela a motivação por trás dessas grandes áreas desmatadas, principalmente por ser um período com alta cobertura de nuvens que normalmente resulta em uma subestimação da área desmatada.
Tarsila Andrade – IPAM
Destruição de corredores ecológicos
Líderes de desmatamento, os municípios baianos São Desidério, Correntina, Barreiras, Jaborandi e Cocos responderam, juntos, por 16% de todo o Cerrado desmatado no primeiro bimestre de 2023. Esse pico na região também é marcado pelo desmatamento de grandes áreas, a maior parte (87,4%) da área desmatada foram de alertas maiores que 50 ha, e se concentram, principalmente, em propriedades privadas – cerca de 15,6 mil ha ou 98,3%. Já para o bioma, 90,5% da área desmatada em fevereiro ocorreu em áreas privadas. E mais da metade (53,6%) da área desmatada foram de alertas maiores que 50 ha.
Por serem fronteiriços e concentrarem grandes focos de desmatamento em regiões de expansão agrícola em que já haviam poucas áreas de preservação, o impacto desses novos desmatamentos podem ser severos para a biodiversidade na região. Por exemplo, 74,1% do desmatamento ocorre em áreas de formação savânica, que tem sido alvo da expansão agrícola nas últimas duas décadas, principalmente para a soja (MapBiomas). Esses novos desmatamentos também prejudicam a formação de corredores ecológicos responsáveis por conectar grandes remanescentes, o que contribui para a ameaça local de espécies e para o isolamento de áreas protegidas.
Segundo a pesquisadora do IPAM Fernanda Ribeiro, o desmatamento atinge uma área estratégica do Cerrado.
As áreas remanescentes de vegetação nativa no oeste baiano têm um papel chave na manutenção da biodiversidade na região pois servem como habitats importantes para espécies endêmicas e ameaçadas, como o arapaçu-de-wagler e a arara azul grande. Além do impacto causado pela perda de habitat, as grandes áreas desmatadas recentemente são ainda mais preocupantes por estarem localizadas em áreas de alta importância para manutenção da conectividade entre as principais áreas protegidas da região.
Fernanda Ribeiro – IPAM