Cinco bacias hidrográficas na região concentram 74,5% do desmatamento no bioma; sem vegetação nativa, perdem capacidade de absorção e distribuição. Tocantins e São Francisco estão entre as mais comprometidas, mostra SAD Cerrado
Da redação
Fotografias: Acervo IPAM
Recentemente pesquisadores expuseram a relação entre o desmatamento no cerrado e segurança hídrica no bioma considerado berço das águas do Brasil. O resultado foi que o desmatamento do Cerrado no Matopiba – que compreende os Estados da Bahia, do Maranhão, do Piauí e de Tocantins – pode reduzir significativamente o abastecimento e a qualidade da água em ao menos 373 municípios, se seguir o ritmo atual. Isso devido ao fato desses municípios estarem dentro da área das bacias hidrográficas mais desmatadas do bioma em 2022, na região da fronteira agrícola. Segundo o SAD Cerrado, 74,5% de todo o desmatamento do Cerrado ano passado ocorreu nas bacias dos rios Tocantins (210.804 hectares), São Francisco (116.367 ha), Parnaíba (105.419 ha), Itapecuru (88.049 ha) e Araguaia (78.368 ha).
Com a perda de vegetação nativa, fica comprometida a capacidade natural de absorção e distribuição da água, que chega a “viajar” centenas de quilômetros antes de ser aproveitada para uso humano, seja em consumo próprio, afazeres domésticos, geração de energia, produção industrial ou irrigação, por exemplo. O SAD Cerrado indica que os municípios que mais desmataram dentro da área das bacias foram Balsas (MA), São Desidério (BA), Correntina (BA), Carolina (MA) e Formosa do Rio Preto (BA).
Para Fernanda Ribeiro, pesquisadora no IPAM responsável pelo SAD Cerrado, a proteção da vegetação próximas às nascentes é fundamental para garantir os recursos hídricos.
Garantir a proteção dos remanescentes de vegetação nativa do Cerrado e, ao mesmo tempo, recuperar áreas próximas a nascentes, rios e bacias, é essencial para a manutenção dos recursos hídricos que temos hoje e para o equilíbrio climático. São diversos e complexos os efeitos que a diminuição na oferta de água teria nos municípios, mas uma coisa é certa: se o desmatamento continuar na velocidade e na extensão em que está, a disponibilidade hídrica será cada vez menor.
Fernanda Ribeiro