Eventos climáticos extremos castigam estados da Amazônia

Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Tocantins e Maranhão foram atingidos pelas fortes chuvas; Algumas cidades decretaram situação de emergência, e há milhares de famílias desabrigadas

Da redação: Ahmad Jarrah e Bruna Obadowski
Fotografia de capa: Secom/Acre

Pouco mais de um mês da tragédia em São Sebastião, no interior paulista, os eventos climáticos extremos no Brasil seguem sua linha crescente de ocorrências, como apontado recentemente pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC). Desta vez, chuvas intensas em março, especialmente no último final de semana, já atingem seis dos nove estados da Amazônia Legal: Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Tocantins e Maranhão. Algumas cidades decretaram situação de emergência, e há milhares de famílias desabrigadas.

AMAZONAS

Em Manaus, capital do Amazonas, as chuvas torrenciais causaram inundações em diversos bairros da cidade no último sábado (25). A Defesa Civil do município informou que várias famílias precisaram ser removidas de suas casas e encaminhadas para abrigos temporários. Ainda segundo a Defesa Civil, cerca de 108 mm de chuva caíram, o que contribuiu para a gravidade da situação. 

Um vídeo registrado por moradores de Manaus, no último sábado, mostra o momento em que duas casas de palafita foram arrastadas pela correnteza do “Igarapé do 40”, na Comunidade Manaus 2000. Não foram confirmadas se haveriam vítimas dentro das residências, que foram completamente engolidas pela correnteza. Além das casas, dezenas de veículos também ficaram completamente submersos.

Vídeo: Reprodução Redes Sociais

No início do mês, Manaus registrou óbito de oito pessoas em decorrência de deslizamentos de terra provocados pelas fortes chuvas.

Foto: Dhyeizo Lemos / Secom/AM

ACRE

No Acre, o governo federal reconheceu situação de emergência, após o registro de fortes chuvas neste domingo (26). Na capital, com o nível de medição do Rio Acre em 16,47m – ultrapassando a cota de alerta e também a cota de transbordamento -,  48 bairros foram atingidos e sete igarapés permanecem em estado de transbordo.

Segundo a Defesa Civil do Estado, o número de pessoas atingidas está sendo atualizado, no entanto, sabe-se que 1.726 já estão distribuídos em 32 abrigos disponibilizados pelo governo. Esse número de desalojados pode ultrapassar 3 mil. Em nota, o governo informou ainda que 1.771 ocorrências já foram atendidas pelas equipes mobilizadas pelo governo estadual por meio do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Secretarias, Polícia Militar, e Instituto Socioeducativo, composta por 404 pessoas que estão envolvidas nas ações de suporte às ocorrências. 

Governo federal reconheceu situação de emergência em Rio Branco após enxurrada que prejudicou 32 mil pessoas. Foto: Pedro Devani/Secom Acre

Em Brasiléia, interior do Acre, oito bairros foram atingidos e cinco abrigos foram instalados. Segundo nota oficial, a estimativa é que 600 famílias tenham sido atingidas, um total de 2.100 pessoas, entre desabrigados e desalojados. Pelo menos 230 ocorrências foram atendidas. 

RONDÔNIA

Em Rondônia, as chuvas fortes neste mês de março causaram deslizamentos de terra em algumas regiões do estado, provocando a interdição de estradas e deixando algumas comunidades isoladas. O município de Porto Velho, capital do estado, também registrou inundações em alguns bairros. De acordo com o Sipam, a normal climatológica do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) é de 273,9 mm, mas logo nos primeiros 21 dias do mês, o estado registrou um acumulado de 366,8 mm.

Na última semana, comunidades indígenas foram atingidas, deixando casas submersas em aldeias da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, na região de Guajará-Mirim e também da Terra Indígena Karipuna. Plantações cultivadas pelas comunidades também foram afetadas, levando o Ministério Público Federal a dar um prazo de 72 horas para que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) informe quais medidas foram adotadas para auxiliar os indígenas.

Aldeia Karipuna fica alagada após rio Jaci Paraná transbordar — Foto André Karipuna

PARÁ

O Pará também está sendo atingido pelas fortes chuvas desde a última sexta-feira (24). Segundo a Defesa Civil do estado, o rio Tocantins, que corta a região sudeste do estado, chegou a quase 12 metros de profundidade, o dobro do nível normal. Já são mais de 2.500 famílias atingidas pelas enchentes. Em Marabá, mais de 1.800 pessoas ficaram desabrigadas. Os dados são deste final semana.

Enchente em Marabá, no Pará (Foto: Igor Meireles/MAB)

MARANHÃO

As fortes chuvas também impactaram o Maranhão. No estado do nordeste pertencente à Amazônia Legal, 31,2 mil famílias foram afetadas, apontam autoridades. Na região, 49 cidades estão em situação de emergência,  com mais de 5,8 mil desabrigados, de acordo com informações publicadas pelo governo estadual. Seis pessoas morreram por causa das chuvas no Estado em pouco mais de uma semana, conforme nota do Corpo de Bombeiros. Abrigos temporários foram construídos em escolas para receber as famílias atingidas e, em parceria com o setor privado, o governo do Estado anunciou doações de itens às pessoas afetadas, como cestas básicas, colchões, alimentação, água, roupas e produtos de higiene pessoal. 

No estado, equipes da Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil atuam nos municípios afetados pelas fortes chuvas. Em trizidela do Vale e São Luís Gonzaga as autoridades atuam nos alojamentos para acolher a população atingida.

TOCANTINS

No Tocantins, o município de Lagoa da Confusão entrou em estado de emergência e trabalha no resgate de indígenas e outros moradores de área rural isolados após as cheias. O decreto publicado pelo prefeito Thiago Soares (DEM) na última sexta-feira (24) afirma que o município foi afetado pelo grande volume de chuva registrado nas últimas semanas. Um comitê crise foi formado para acompanhar toda situação.  Devido à enchente não é possível ver mais a região da orla da cidade, quem tem a lagoa como cartão postal, porque tudo foi coberto pela água.  A prefeitura não divulgou balanço de quantas pessoas foram atingidas.

Áreas rurais da cidade ficaram debaixo d’água — Foto: Reprodução

ALERTA

Antes das tragédias, o INMET (Instituto Nacional Meteorologia) havia publicado aviso de fortes chuvas entre 30 e 60 mm/h ou 50 e 100 mm/dia,  com ventos intensos (60-100 km/h) e risco de corte de energia elétrica,  queda de galhos de árvores, alagamentos e de descargas elétricas nas regiões da Amazônia.

A situação nos estados afetados pelas chuvas é delicada. Equipes da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e outros órgãos estão mobilizados para prestar auxílio às pessoas afetadas e minimizar os impactos das chuvas. No domingo (26), os ministros da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, a ministra do Meio Ambiente Marina Silva e o secretário nacional da Defesa Civil, Wolnei Wolff, chegaram ao Acre para um sobrevoo pelas áreas alagadas.

Durante a agenda, a ministra Marina Silva, afirmou que “É necessário um plano de prevenção dos efeitos extremos da mudança do clima, e isso só será possível com parceria dos governos estadual, municipal e federal. Ninguém dá conta de um problema dessa magnitude sozinho”. O Ministério segue acompanhando a situação.

IPCC

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), divulgou no dia 20 de março o relatório síntese do seu atual ciclo de avaliações sobre o aquecimento global provocado pelo homem. O relatório aponta a necessidade de  ações climáticas efetivas e urgentes para evitar o colapso climático do nosso planeta. 

Segundo autoridades, mais de um século de queima de combustíveis fósseis, bem como energia desigual e insustentável e uso da terra levaram ao aquecimento global de 1,1°C acima dos níveis pré-industriais. Essa combinação resultou em eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos, que causarão impactos cada vez mais perigosos na natureza e nas pessoas em todas as regiões do mundo, como ondas de calor mais intensas, chuvas mais fortes e crescimento significativo de eventos climáticos extremos. Espera-se que a insegurança alimentar e hídrica também aumente.

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