Desmatamento no Cerrado aumenta 35% em relação ao mesmo período do ano passado

Quatro primeiros meses do ano registraram aumento significativo comparado ao mesmo período de 2022; Abril registrou desmate de 69 mil hectares

Da redação
Com informações Ipam
Foto de capa: Bruna Obadowski

O desmatamento do Cerrado ultrapassou 69 mil hectares em abril de 2023. Esse número representa um aumento de 36% em relação a abril do ano passado, quando foram registrados quase 51 mil hectares desmatados, segundo dados detectados e confirmados pelo SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado) divulgados na última sexta-feira (12/05).

Dados de abril confirmam a tendência de aumento registrada no início de 2023. Os primeiros quatro meses do ano totalizaram cerca de 257,3 mil hectares desmatados, mais que o dobro da área da cidade do Rio de Janeiro. Números representam um aumento de quase 35% em relação ao registrado nos primeiros quatro meses do ano passado. Os estados da Bahia, Tocantins, Maranhão e Piauí responderam por volta de 69% do desmatamento do Cerrado nesse período, com cerca de 177,8 mil hectares derrubados.

Pesquisadoras do SAD alertam para a influência do período de chuvas nas imagens de satélite e que os desmatamentos confirmados em abril podem ter ocorrido em outros meses de 2023, em áreas cobertas por nuvens nos meses anteriores. Regiões do sul do Maranhão, como o municípios de Balsas, e do Tocantins são especialmente afetadas pelo fenômeno.

“A alta cobertura de nuvens nas imagens de satélite por sensores ópticos durante a época de chuva é um grande desafio para o monitoramento do desmatamento nesta época. Os alertas detectados neste último mês não necessariamente ocorreram no mês de abril, mas podem ter ocorrido em qualquer momento desde o início da época chuvosa. Além disso, o SAD Cerrado preza por confirmar o desmatamento mapeado antes de se tornar um alerta, o que pode gerar um atraso na detecção de novas áreas desmatadas. Apesar desses fatores, o mês de abril teve um aumento significativo em relação ao mesmo período do ano passado, o que indica uma possível tendência de aumento do desmatamento no Cerrado. Esse aumento só poderá ser de fato confirmado nos próximos meses”, aponta a pesquisadora do IPAM, Fernanda Ribeiro.

A pesquisadora também destaca que a chegada da estação seca traz também uma menor cobertura de nuvens, além de um clima mais propício para o desmate de novas áreas. Juntos, esses fatores podem contribuir para números ainda maiores para o desmatamento do Cerrado, que costuma atingir seu ponto mais crítico nos meses de junho, julho e agosto.

“Durante o mês de abril, que é o começo da transição para a época de seca, já foi possível detectar novas áreas desmatadas que antes estavam possivelmente cobertas por nuvens. É esperado que esse número de alertas aumente durante a época de seca, principalmente entre junho e agosto, devido às condições climáticas favoráveis nas imagens de satélite e também ao calendário agrícola, que tem mais atividade nessa época do ano.”

Municípios

Líderes do ranking em março, municípios do oeste da Bahia seguem liderando a lista de municípios que mais desmataram. Em abril, foram confirmados 3,9 mil hectares de Cerrado desmatado em São Desidério, número 5 vezes maior do que o registrado no município em abril de 2022.

“É muito preocupante esse aumento constante e acelerado do desmatamento no oeste da Bahia. Essa é uma região onde houve uma rápida expansão do setor agropecuário, resultando em uma baixa cobertura de vegetação nativa nos dias de hoje. Essa supressão da vegetação nativa impacta não somente o meio ambiente e a biodiversidade, como também a própria produção agrícola e a população local através da disponibilidade hídrica, que está diretamente relacionada com o desmatamento. Além disso, a maior parte da vegetação nativa remanescente na região está localizada em propriedades privadas. Por isso, é necessário um fortalecimento das políticas públicas de combate ao desmatamento e de restrição de uso do solo, além de um maior incentivo à conservação em áreas privadas.”

Área afetada por desmatamento na região de São Desidério (BA). Imagens ©Planet Scope

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