Texto: Ahmad Jarrah
Fotos: Bruna Obadowski e Ahmad Jarrah
Nascido no sertão pernambucano, quis o destino que Cícero Berto de Lima partisse com quinze anos de idade para São Paulo, junto com seus outros oito irmãos e sua mãe, após o falecimento do pai. Era 1977, e mal acabara de chegar à cidade grande, um desentendimento familiar o levou a viver nas ruas.
Antes de ganhar o mundo como andarilho, ele fez um pedido à mãe “Mãe estou passando muito frio e também fome, pelo amor de Deus aumenta dois anos da minha idade, só assim eu já serei maior de idade, tiro meus documentos e vou cuidar da minha vida”. Ela fez então uma nova certidão de nascimento, com um novo nome: Paulo Cícero de Lima, nascido em 27 de setembro de 1960.
Rodou o Brasil trabalhando em diversas funções, se envolveu com álcool e drogas e acumulou algumas contravenções que lhe renderam uma ficha criminal, a maioria por furto de pequenas coisas, principalmente comida. Casou e teve quatro filhos, antes de um incidente que faria sua vida tomar um doloroso caminho.
“Aquela noite estava muito fria, em uma tentativa de entrar na igreja para pegar alguma coisa e escapar daquele frio cortei minha mão. Dentro da igreja peguei um lençol branco, coloquei nas costas e com a mão cortada eu o segurei, o sangue da minha mão passou para o lençol. Do lado de fora tinha um galinheiro, peguei duas galinhas e uma faca que estava em cima de uma churrasqueira. Imediatamente sai daquele lugar. Voltei para a estrada. Passei pelo bairro do Tanque e peguei uma estrada de terra que é paralela a Fernão Dias. Próximo de um bairro por nome Esmeralda, na beira da estrada tinha uma casa em construção; Entrei naquela casa, fiz um fogo, assei as galinhas, comi e dormi ali”.
Seria um dia como outro qualquer, não fosse um fato ocorrendo simultaneamente próximo dali, o assassinato de uma jovem em frente ao filho de três anos. A infeliz coincidência o levou injustamente a cumprir uma pena por latrocínio, um crime que nunca cometeu, conta.
Ele foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado, “só fui preso porque não estava sabendo de nada”. Na época, era analfabeto e não sabia como contestar, ainda, a situacão de rua em que se encontrava o deixava mais vulnerável. “E também aqueles policiais que me prenderam eram marginais da pior espécie”. Desde então, iniciou uma odisseia de esperanças e frustrações que se estendem até hoje, com o objetivo de provar a sua inocência.
Tinha 30 anos quando foi preso, alfabetizado dentro do presídio, se aproximou da religião cristã. Um dia teve um sonho, em que carregava uma pesada cruz por um caminho cheio de obstáculos, e ficou com isso em mente.
Após 16 anos e 70 dias encarcerado, finalmente conseguiu liberdade em regime aberto. De volta às ruas, passou a trabalhar em diversas funções até decidir escrever uma carta e levar até Brasília a pé, em busca de justiça.
“Perguntei para um senhor: – “Senhor, acha que um homem de 52 anos consegue ir daqui até Brasília a pé?”. Aquele homem respondeu: – “Eu acho muito difícil…”. Peguei a BR Anhanguera. Pedindo comida nos postos de gasolina, tomava banho e dormia também. Dias após dias se passaram. Cheguei ao final da Anhanguera. Atravessei a ponte e entrei no estado de Goiás pela BR 050, fui até a cidade de Cristalina. Lá eu peguei a BR 040. Com 38 dias eu cheguei à estrada Juscelino Kubitschek.”
O percurso, já penoso, foi feito carregando uma grande cruz de madeira de quarenta quilos nos ombros, conforme a revelação em sonho.
Apesar de ter espalhado sua carta por Brasília, as 500 cópias não surtiram muito efeito. Partiu então para outros estados chegando em Mato Grosso. Estava no km 375 da BR-364, indo em direção à Cuiabá quando o encontramos.
O homem na estrada
Logo a notícia de que um homem caminhava a pé pela rodovia, carregando uma cruz, despertou a curiosidade e se espalhou pela região. Por onde passamos na estrada, encontramos pessoas que ouviram o boato e estavam aguardando encontrar esse homem. Conhecemos Paulo alguns quilômetros à frente de um posto de pedágio. Ele havia parado em uma fazenda em busca de ajuda para consertar a rodinha que apoia a cruz no chão.
Espontaneamente, abriu a caixa de memórias e passou a narrar sua história até chegar ali. Muito gentil e humilde, afirmava com convicção que esse ato, de carregar a pé por quilômetros uma pesada cruz, não era loucura.
– O senhor vai para Cuiabá?, perguntamos.
– Com a graça de Deus, nada vai me impedir de chegar a essa cidade.
– Vai ficar em Cuiabá?
– Não, vou pra Porto Velho. De lá, Estados Unidos.
– Estados Unidos? Por que?
– Vou me encontrar com Trump pra provar minha inocência, porque em Brasília não deu certo.
Parece ter domínio de si, mas por vezes suas ideias se embebedam de absurdo, e já não sabemos mais distinguir verdade e imaginação. Porém, a determinação que levou este pernambucano até Cuiabá a pé, não deixa dúvida das distâncias que pode alcançar.
Não vemos como chegar ao presidente dos Estados Unidos possa mudar a sua situação, e atualmente é pouco provável que Trump o receba, porém a obstinação levada ao extremo para provar inocência é algo que realmente impressiona.
É inevitável a associação com o martírio de Jesus Cristo, também vítima da injustiça dos tribunais e, sem dúvida, uma referência para Paulo.
Entretanto, esse ímpeto em provar sua inocência poderia se confundir com o sacrifício da culpa, a penitência do arrependimento. Não há ainda uma conclusão do fato que ocorreu na noite do assassinato, apesar da condenação. É possível que tudo seja realmente um engano, ou não. Talvez nunca saberemos. Enquanto isso, Paulo seguirá em sua via crucis, contando com a ajuda de pessoas que encontra pelo caminho. Leva consigo apenas uma pequena mochila, com alguns calçados e peças de roupas, uma demonstração de desapego material e devoção à peregrinação.
Entre uma andança e outra, durante os longos percursos, Paulo encontra momentos para tomar banho, se alimentar, ou descansar. Diz ter muitas dores musculares, toma anti-inflamatório para aliviar, “é muito cansativo”. O sol não dá trégua. Parece queimar além da pele, e obriga Paulo a fazer pequenas pausas nas sombras que encontra pelo caminho.
Uma garota que conheceu na estrada criou uma página no facebook para disponibilizar uma carta que redigiu ao mundo, em busca de justiça. O documento é parte de um livro que está escrevendo, sua história em detalhes é praticamente um roteiro de longa-metragem. Paulo, carrega em sua cruz fotografias e registros de pessoas que conhece pelo caminho e que, de alguma forma, o ajudaram.
Depois desse tempo todo, pergunto se ainda sente saudades de casa, da família… “Minha casa é o mundo, meus filhos estão por aí e posso encontrá-los em qualquer lugar”.
Antes de desviarmos nossos caminhos, ele fez um último pedido, que divulgássemos a carta que conta sua história, que segue abaixo na íntegra.
***
UMA CARTA PARA O MUNDO. EM BUSCA DE JUSTIÇA.
Capítulo 1- A última das cartas…
Bom dia para todos…
O meu nome é Cicero Berto de Lima, nasci na cidade de Canhotinho P.E., no dia 27 de setembro de 1962. Sou de uma família de nove irmãos, Severino, José, Antônio, Margarida, Helena, Cicero, João, José Berto e Everaldo.
No inicio dos anos 70 o nosso pai morreu, no dia 6 de setembro de 1977, nós mudamos para a cidade de Jandira SP, em uma tentativa de uma nova vida.
Naqueles dias eu tive um grande desentendimento com o meu irmão José, sai de casa e passei a morar nas ruas de Jandira. Meses depois eu encontrei com a minha mãe, eu disse:- “Mãe estou passando muito frio e também fome, pelo amor de Deus aumenta dois anos da minha idade, só assim eu já serei maior de idade, tiro meus documentos e vou cuidar da minha vida”.
Naqueles mesmos dias a nossa mãe viajou para Canhotinho, lá ela foi ate uma cidade vizinha por nome de Angelim e fez uma nova certidão de nascimento com um novo nome, Paulo Cicero de Lima, nascido no dia 27 de setembro de 1960.
Assim que peguei aquele documento nas mãos passei a viajar pelo mundo, trabalhei em varias usinas de açúcar, construções, fazendas e fui andarilho.
Dias após dias se passaram, no inicio dos anos 80 eu estava trabalhando na construção de uma usina na região da cidade de Guapiaçu SP, naquela cidade um parque de diversão, todas as noites os meus colegas de trabalho me chamavam para eu ir até lá com eles, eu dizia:- “Vão com Deus, bom divertimento para vocês”.
De tanto eles insistirem, um daqueles finais de semana eu fui com eles, lá eu conheci o dono do parque, o senhor Cotoco, um homem muito agradável. Naquela noite eu fiquei amigo de da sua família.
Dias depois eu pedi a conta daquela usina e fui até o parque para me despedir dos meus amigos, o senhor Cotoco me chamou para morar com eles, eu aceitei o convite, passamos a viajar no interior paulista e Minas Gerais. Uns dois meses depois nó estávamos na cidade de Cariacu MG.
Em um daqueles dias eu estava conversando com o senhor Cotoco, ele tinha uma filha por nome de Gina; Ele perguntou:- “Paulinho, você quer casar com a minha filha Gina?”. Ele me falou estas palavras e saiu dando risada.
A Gina era muito boazinha, mas era uma jovem muito escandalosa e também era a bailarina do parque, dava show em qualquer lugar e amava a sua profissão; Quanto a mim, o meu sonho era casar com uma moça que gostasse de usar roupas compridas.
Naqueles dias eu percebi os olhares de Gina em mim, todas as noites elas deixava bilhetes para mim dentro da bilheteria, o local onde eu dormia.
Em um dia eu tomei umas pingas a mais e ela estava deitada, a Gina veio até o guichê da bilheteria, nós iniciamos uma palestra, eu perguntei:-“ Gina você quer casar comigo?”, e ela respondeu:-“ Quero sim Paulinho, nós colocamos um jogo aqui no parque, vamos viver a nossa vida e ter muitos filhos”.
No dia seguinte o seguinte o senhor Cotoco veio de encontro a mim, muito sorridente, e disse:- “Paulinho a Gina já me falou do seu pedido de casamento, ela é a minha única filha, o senhor é como um filho para mim, desejo toda a felicidade do mundo para vocês”.
Dias depois nós nos mudamos para a cidade de Monte Sião MG. Em Monte Sião nós fomos até o cartório e marcamos a data do casamento, dias depois nós casamos e foi o início de uma grande história de amor e ódio.
Anos após anos nós passamos por várias cidades do interior paulista e de Minas Gerais. Com a influência de alguém cometi alguns crimes de furto e em poucos dias arrumei uma grande ficha policial.
No ano de 1993 o parque já tinha chegado ao seu fim. Nós estávamos morando na cidade de Mogi Guaçu SP.
Naqueles dias eu passei a procurar um emprego em uma empresa grande, pois eu já tinha 30 anos e já era pai de quatro filhos, Jean Carlos de Lima com 10 anos, Joice Rafaela de Lima com sete anos, Joanathan Rafael de Lima com quatro anos e Daniel Berto de Lima com um ano.
Como eu já tinha passagem pela policia estava muito difícil para arrumar um emprego; Um amigo do senhor Cotoco veio passear em sua casa, ele morava na cidade de Vargem SP, que fica no km sete da rodovia Fernão dias, ele disse:- “Paulinho está tendo uma grande obra na construção da Fernão dias, tem varias empresas e está precisando de muita gente”.
Dia 17 de junho de 1993 eu sai da minha casa na cidade de Mogi Guaçu, rumo à cidade de Vargem, naquele dia eu só tinha uma única coisa em mente, em primeiro lugar arrumar um emprego e em segundo, arrumar uma casa, pois o dono da casa onde nós estávamos morando tinha dado um prazo para nós nos mudar até o dia trinta daquele mês.
Capítulo 2- Um investigador de polícia acaba com uma grande história de amor e ódio…
O meu dinheiro só deu para eu chegar até a cidade de Atibaia, tinha uns quarenta km para eu andar a pé e já era tarde do dia. Peguei uma estrada de terra em uma tentativa de cortar caminho. Umas 11 horas da noite eu estava próximo de uma vila por nome Bairro do Tanque, região da cidade de Atibaia SP.
A rodovia Fernão Dias passava ali do lado, só que eu tinha que passar por dentro de um sítio para chegar mais rápido na rodovia, entrei no sítio; Quando eu estava chagando do outro lado fui atacado por um cachorro, voltei correndo, peguei uma trilha e sai em uma igreja que tinha naquele sítio.
Aquela noite estava muito fria, em uma tentativa de entrar na igreja para pegar alguma coisa e escapar daquele frio cortei minha mão. Dentro da igreja peguei um lençol branco, coloquei nas costas e com a mão cortada eu o segurei, o sangue da minha mão passou para o lençol.
Do lado de fora tinha um galinheiro, peguei duas galinhas e uma faca que estava em cima de uma churrasqueira. Imediatamente sai daquele lugar. Voltei para a estrada. Passei pelo bairro do Tanque e peguei uma estrada de terra que é paralela a Fernão Dias.
Próximo de um bairro por nome Esmeralda, na beira da estrada tinha uma casa em construção; Entrei naquela casa, fiz um fogo, assei as galinhas, comi e dormi ali.
Dia 18 de junhode1993, aquele dia amanheceu chovendo muito. Tinha sobrado uns pedaços das galinhas, pensei em jogar fora, tanto os pedaços da galinha quanto a faca, então eu pensei: “tirei a vida dela e agora vou jogar fora? Não, A faca irei levar ela vai me servir para eu descascar algumas laranjas na estrada”.
Assim que aquela chuva passou, eu peguei a estrada. Naquela estrada tinha umas casinhas com umas placas na frente. Não sei se era para alugar ou para vende, pois eu era analfabeto na época. Vinha um homem de encontro a mim e eu perguntei: – “Senhor, por aqui é fácil arrumar uma casa para alugar?”, Ele nem me deu atenção, eu fiquei muito nervoso e xinguei ele. Mais um pouco para frente tinha um grande alvoroço de frente a uma casa. Conclui que o povo daquele bairro eram todos loucos. A uns seiscentos metros depois veio uma grande chuva, eu corri para uma área de uma chácara. Choveu mais de uma hora.
Naqueles dias não existia asfaltos nas ruas do bairro Esmeralda. Aquelas ruas só era barro. Embaixo daquela área olhei para as minhas roupas, estavam puro barro e o tempo ameaçava chuva o dia todo. Pensei: “Irei para a Vargem e segunda-feira eu volto para procurar uma casa para alugar aqui”.
Assim que aquela chuva passou eu coloquei a sacola nas costas e peguei a estrada. Uns duzentos metros depois eu encontrei com uma viatura policial. Fui preso e conduzido ao primeiro distrito policial da cidade de Atibaia SP.
Chagando lá eu fui entregue para o delegado Rafael e o delegado Alfim. O Alfim perguntou:- “De quem é este sangue?”, eu respondi:- ”O sangue que esta no lençol é meu, o da sacola e alguns pingos que tem nas minhas roupas é de galinha”.
Imediatamente ele pegou meu sapatão e me conduziu até uma cela. Umas duas horas depois ele voltou com uma criança e dois homens; Ele pediu para nó três ficar em pé um do lado do outro e perguntou para o menino: “Qual dos três matou sua mãe?”. O menino respondeu: “Nenhum dos três”.
Queridos amigos, foi naquele momento que eu fiquei sabendo que naquele bairro tinha ocorrido um assassinato de uma jovem por nome Ana Célia, a esposa de Marco Roberto e aquele menino era o Rodrigo filho do casal de três anos.
Aquela jovem tinha sido assassinada por faca. E foi encontrada uma faca comigo, o pior é que eu era o suspeito principal. Fui torturado por dois dias, pois o delegado Rafael junto com o Alfim queria a confissão do crime. O meu sofrimento foi tão grande que por anos eu achava que todos os policiais eram bandidos das piores espécies.
Uma semana depois saiu o laudo da pericia, segundo eles foi achado às pegadas do meu sapatão no quintal da casa de Ana Célia. Fui entrevistado pelo Gil Gomes e sai nas primeiras paginas do jornal de Atibaia do titulo eram: “Andarilho jura ser inocente”.
Naqueles mesmos dias eu fui indiciado pelo crime de latrocínio, roubo seguido de morte. Segundo Alfim eu matei Ana Célia para roubar um pé de cabra e um martelo.
O juiz pediu para recolher as minhas roupas, a faca e mandou para a Unicamp em Campinas, pois ele queria saber a quem pertencia aquele sangue. Em 1994, o juiz e o promotor foram transferidos de Atibaia. Veio um juiz novo.
Nos dias finais daquele ano a Unicamp pediu os laudos originais para dar o parecer final de quem pertencia aquele sangue. O juiz achou que o depoimento do Alfim era o que bastava que o processo estivesse perfeito e me condenou há 21 anos no regime integral fechado.
Na próxima visita eu falei para a Gina ir cuidar dos nossos filhos e não vir me visitar nunca mais. Ela saiu chorando e foi embora, eu fiquei com uma grande dor no coração.
Os meus queridos irmãos arrumaram um advogado. Ele fez a apelação do meu processo e mandou para o tribunal de justiça. Nós tínhamos uma grande esperança que lá iria ser feito justiça
Dias depois eu fui transferido para a antiga casa de detenção de São Paulo. Lá eu fiquei uns dias no pavilhão nove depois mudei para o pavilhão oito.
Naqueles dias eu era analfabeto, naquele inferno não tinha nada para fazer. Eram só drogas, confusão e morte. Fui para a escola, conheci irmãos de todas as religiões.
Aqueles irmãos foram os meus verdadeiros amigos, através deles eu aprendi como viver naquele inferno sem arrumar confusão. O caminho da humildade e da simplicidade, amor leal… Meus agradecimentos a todos.
No final de 1995 o tribunal de justiça indeferiu o meu pedido de apelação. Meses depois eu fiz um pedido de uma revisão criminal, também foi indeferida.
Em 1998 eu fui transferido para a penitenciaria da cidade de Pirajuí. Levantei a cabeça, minha única ocupação era ler a bíblia e praticar esporte, com uma única coisa em mente: “Um dia irei sair desse inferno, vou provar minha inocência e meus filhos vão saber que todas as desgraças que aconteceram em nossas vidas eu não tive culpa”.
Passei a andar pelo sistema prisional paulista. No ano de 2002 eu estava na penitenciaria da cidade de Bauru.
O meu irmão Everaldo foi me visitar. Em uma palestra eu pedi para ele arrumar um advogado para ver como estava o meu processo. Ele disse:- “Meu irmão eu estou muito bem empregado, trabalho nas lojas Marabras. Dinheiro não é o problema, difícil é confiar em advogado, mas irei ver isto para você”.
Ele arrumou um advogado e foi feito uma nova revisão criminal. O tribunal de justiça aceitou o pedido e o processo foi reaberto. Eu passei a ter uma grande esperança.
Anos após anos se passaram através de varias batalhas judiciais.
No dia 28 de agosto de 2009 o tribunal de justiça deferiu o meu regime aberto.
Vim para Jandira e fui morar na casa da minha mãe e logo depois eu fui trabalhar junto com o José Irmão, meu melhor amigo, na empresa Sol Técnica Metais, que fica na Rua Conselheiro Lafaiete, Nº105, bairro Mooca. Naqueles mesmos dias fui à procura dos meus filhos. Todos moram na cidade de Vargem. A Gina estava casada e meu único filho que estava solteiro era o Daniel, eu já tinha cinco netos.
Depois de oito anos a minha revisão criminal foi marcada a data do julgamento para o dia 25 de maio de 2010. Naqueles dias os desembargadores indeferiram. Eu fiquei totalmente louco, foi a maior decepção da minha vida. Abandonei a empresa e sai chorando pelas ruas da Mooca com um só pensamento em mente: “irei tocar fogo em umas 50 casas no município de Atibaia, só assim para eu chamar a atenção das autoridades e irei provar minha inocência. Mesmo que seja para eu voltar para aquele inferno e ficar lá o resto dos meus dias”.
Andando pela rodovia Fernão Dias eu pensei: “O que o povo daquela cidade tem a ver com um detetive bandido?”.
Mediante as mudanças dos meus pensamentos, eu fui direto ao bairro de Esmeralda.
Capitulo 3 – Em busca por justiça…
Chegando lá eu falei para todos quem eu era. Aquelas pessoas que presenciaram os fatos estavam todas vivas, todos olharam para mim com dor e falaram:- “Quem matou Ana Célia foi o Marco Roberto”.
Fiquei uma semana dormindo nas ruas daquele bairro a procura de uma informação do endereço do Marco Roberto. Em um daqueles dias encontrei com um homem, ele disse:- “Quem matou Ana Célia foi o Marco, ele mora no Jardim Iguatemi, em Bragança Paulista, SP”.
Mediante as informações daquele homem eu fui direto para o Jardim Iguatemi. Cheguei lá umas 11 Horas do dia, Não foi difícil achar a casa, só que não tinha ninguém, os vizinhos falaram que eles estavam trabalhando e só chegava depois das 16 horas.
Queridos amigos e amigas, naquele momento eu estava com muito medo, mas aquele encontro era eminente. Fiquei e um ponto de ônibus próximo da sua casa. Quando chegou às 16 horas a ansiedade aumentou e logo depois passou um cabeludo em uma moto. Logo deduzi que era ele.
Ele parou de frente ao seu portão, imediatamente ele abriu e entrou, eu sai correndo atrás dele. De frente ao seu portão eu gritei: – “Marco, o Marco, eu preciso falar com você…”.
Assim que ele saiu ele perguntou: – “Quem é você?”.
Naquele momento eu não sabia como ia ser recebido, mas a hora do encontro tinha chegado. Eu respondi: – “Sou Paulo, aquele que foi preso pelo assassinato de Ana Célia”.
Achei que seria recebido por uma pessoa muito arrogante, mas foi ao contrario, muito calmo ele disse: – “O que aconteceu com você, estava no local errado, na hora errada…”. Eu perguntei:- “Marco, foi você o assassino de Ana Célia?”, e ele respondeu: – “Paulo, eu tenho coração, sou católico e amo a minha fé. Se fosse eu o assassino, eu tinha confessado o crime…”, Eu disse:- “Mas todos lá no bairro de Esmeralda fala que foi você…”, e ele disse: -“ Eu sei disso, mas ninguém tem provas contra mim. Aquele povo fala de mais… Aquele investigador, o Alfim, quase me deixou louco na época. Ele era a única pessoa que poderia ter te ajudado, mas ele morreu”.
Através das suas palavras eu passei a acreditar na possibilidade de ele também ser uma vitima, perguntei: – “Marco, foi roubado um pé de cabra e um martelo da tua casa?”, ele respondeu: – “não sumiu nada Paulo, estou sabendo disso agora porque você falou, aquele foi um crime de vingança, não de roubo. Nem eu nem ninguém daquele bairro te acusamos de nada, eu acusei o japonês, que diziam que era parente de Ana Célia, mas ele era um grande mentiroso”. E ele prosseguiu dizendo: – “Paulo, eu moro aqui, não vou fugir, estou aqui disposto a te ajudar, só que eu não sei de nada do passo de Ana Célia. Paulo eu casei com uma moça já tenho um filho de 12 anos, pelo amor de Deus, não faça nada com eles”.
Eu disse: – “Marco, eu estou em busca da verdade. Desejo toda felicidade do mundo para vocês”, Então ele disse: – “Ninguém sabe o que se passa na cabeça de uma pessoa que ficou 16 anos preso”.
Escrevi uma carta usando as palavras de Marco, e também daquelas pessoas que presenciaram os fatos. O titulo da carata ara: “Povo de Esmeralda, devolva a minha vida. Pois sou um homem totalmente infeliz”.
Assim que acabei fui até uma papelaria, o rapaz corrigiu, fiz quinhentas copias e distribui pela região toda. Colei nos postos e nos pontos de ônibus. Encontrei com um homem que conhece toda aquela história, nós iniciamos uma palestra. Ele disse: – “Paulo estas pessoas só vão conhecer a sua historia, mas na verdade eles não vão poder fazer nada por você…”. E eu perguntei: – “Por quê? Pois eu tenho esperança que através deste trabalho alguém venha a denunciar o verdadeiro assassino”. E então ele disse: – “Paulo, eu nasci aqui, conheço todos, uns acusam Marco Roberto, outros dizem que foi o amante, o japonês, mas é só comentário. Ninguém sabe quem matou Ana Célia”.
Naquele momento eu cheguei à conclusão que ele estava certo… Todas as minhas esperanças acabaram naquele momento. Passei a morar nas ruas. Para fugir daquela realidade cruel passei a usar drogas e beber pinga. Queridos, cai na prisão dos vícios.
Naqueles mesmos dias eu fui à cidade de Vargem. Lá eu fui até a casa da minha ex-sogra. A tia Maria. Ela disse: – “Compadre Paulinho o seu amigo Cotoco morreu, mas eu estou viva. A minha casa esta aqui. O senhor pode morar aqui o tempo que quiser, pois o senhor precisa conhecer os seus filhos”.
Fiquei morando na casa da minha querida tia Maria. Arrumei um trabalho em uma construção de uma casa. Ali nós escutávamos radio o dia inteiro. Em uma daquelas tardes eu estava escutando a radio 102 FM de Bragança Paulista e naquele momento estava iniciando o programa de um reporte por nome Rivelino. Então eu passei a sentir muita firmeza nas palavras de Rivelino e passei a ser ouvinte do seu programa.
As minhas esperanças voltaram. E eu só tinha uma coisa em mente: “irei procurar Rivelino e ele vai me ajudar…”.
Em um daqueles dias eu fui até a rádio 102 FM. Lá eu procurei pelo Rivelino. A moça que fica na portaria disse: – “Espere um pouco”.
Naquele momento a minha esperança estava naquela radio. Logo depois ele chegou. A Moça disse: – “Rivelino, este senhor quer falar com você”.
Ele me mandou entrar. Na sua sala eu contei toda a história, ele disse: – “No que depender de mim, irei fazer de tudo para te ajudar. Só que eu preciso da copia do processo…”.
Voltei para Vargem, cheio de felicidade. Como já fazia três meses que eu estava morando na casa da minha querida tia, e até aquele momento nenhum dos meus filhos tinha me procurado, decidi ir embora para a casa da minha querida mãe.
Capitulo 4 – O meu primeiro contato com a cópia do processo.
Desde o inicio da minha condenação eu tinha muita curiosidade de saber o que realmente estava escrito naquele processo, só que eu tinha medo de uma revolta dos presos e também vergonha de ser acusado de ter matado a jovem Ana Célia do lado do seu filho de três anos para roubar um pé de cabra e um martelo. Um monstro cruel digno de morte e ser torturado até a morte.
Só que agora eu sei ler, graças a Deus e também estou em liberdade. Chegando à casa da minha querida mãe, fui até o fórum, peguei a cópia do processo e iniciei a leitura…
Acusação 1 – Usei o nome do Paulo Alves da silva.
Queridos leitores, no dia 18 de junho de 1993 eu tinha deixado a minha família em situação ruim. Eu tinha alguns inquéritos policiais dos anos 80. Alguns deles já poderiam ter sido julgados e poderia existir um mandato de prisão contra mim.
Acusação 2 – Segundo a declaração do detetive Alfim, o Rodrigo reconheceu a blusa que eu estava usando como a do assassino.
Queridos leitores, uma hora ou mais depois da minha prisão eu tive face a face com o Rodrigo porque ele não declarou esse encontro em juízo?
Acusação 3 – Segundo a perícia encontraram pegadas do meu sapatão no quintal de Ana Célia. Tive acesso à cópia dessa pegada. Era realmente do sapatão que eu estava usando.
Queridos leitores, aquela pegada estava legível? Pense comigo, você andando por uma estrada de terra, em um dia de chuva, das primeiras coisas de ocorre é o barro cobrir o desenho do seu sapato, pois naquele dia eu não estava aguentando o peso do meu sapatão de tanto barro no solado.
Tenho provas do que estou falando. Com a chuva que ocorreu naquele dia, não tinha possibilidade da pericia encontrar pegada de sapato de ninguém.
Acusação 4 – O Exame de sangue…
O juiz diz que a pericia afirma que foi encontrado segue humano no lençol. Desde o inicio eu falei para a polícia que o sangue que tinha no lençol era meu. Faltou competência da justiça de Atibaia da época para descobrir de quem pertencia aquele sangue.
Acusação 5 – Segundo o detetive Alfim o Rodrigo falou que quando a sua mãe foi atacada pelo assassino ela disse: – “Cuidado filho, é bandido ou ladrão”.
Assim que acabei de ler esta parte fiquei muito nervoso. Peguei o telefone e liguei para o Marco e assim que ele atendeu eu perguntei: – “Marco, no dia da morte de Ana Célia, você se lembra do Rodrigo ter falado que quando a sua mãe foi atacada pelo assassino“, ela disse: – “Cuidado filho, é bandido ou ladrão”, ele respondeu: – “Como eu vou saber, isto já faz tanto tempo”.
Irritado com as suas palavras, imediatamente desliguei o telefone, fiquei nervoso dentro de casa e comentei as suas palavras com a minha querida mãe…
Ele disse: – “Isto é conversa dele. Pois eu tenho 80 anos e lembro-me de coisas da época que eu era criança”. Falei: – “Pois é minha mãe se o Rodrigo realmente falou essas palavras eu vou descobrir. Pois ele era uma criança e quando ele foi interrogado pelo detetive Alfim, possivelmente tinha alguém com ele…”.
Naquele momento peguei o telefone outra vez e liguei para o Marco, as minhas primeiras palavras foram: – “Marco, eu me lembro de coisas da época que eu era criança”, Ele disse: – “Paulo, eu já te falei estou disposto a te ajudar, mas eu não sei nada do passado de Ana Célia…”, Ele prosseguiu dizendo: – “Paulo, quando você vem aqui ou liga, a minha vida vira um inferno. Nem a minha mulher nem o Rodrigo quer que eu mexa com isso, mas, por favor, só me procure quando o assunto for bem sério. Muitas pessoas já mandaram ir a polícia fazer um B.O contra você, mas eu disse não, se ele voltou para resolver este assunto, que resolva…”. Eu disse: – “Marco, tanto a sua esposa, com o seu filho tem que entender que foi através da morte de Ana Célia que eu acabei com a minha vida. Fiquei 16 anos preso, passei por várias humilhações dentro daquele inferno. Os meus queridos filhos também passaram por várias humilhações aqui no mundão. Hoje eu sinto a revolta deles por todas as desgraças que ocorreu com eles…”, eu prossegui dizendo: – “Marco, a única coisa que eu tenho é a minha palavra, te digo agora nunca mais eu te procuro. Deus é bom, um dia nós vamos ter um encontro no tribunal de justiça na presença do juiz. Até este dia, fique tranquilo”.
Naqueles mesmos dias peguei a cópia do processo e fui a Bragança Paulista a procura do Rivelino. Antes passei no bairro da Esmeralda, fiquei três dias lá, procurei todas aquelas pessoas que tiveram contato com o Rodrigo após a morte de sua mãe. Todos falaram que nunca ouviram tais afirmações do Alfim sair da boca do Rodrigo.
Fui até a rádio 102 FM, cheguei lá uma hora antes de iniciar o programa do Rivelino. A moça me mandou sentar e esperar, uns 10 minutos antes de iniciar o seu programa ele chegou. Assim que ele me viu entrou no carro e saiu. Não sei se ele entrou pelos fundos ou transmitiu seu programa da sua casa, só sei que iniciou o seu programa, acabou e eu não vi nem ele entrar, nem sair.
No final do seu programa iniciou outro programa de outro repórter por nome de Mala. A moça disse que seria bom eu contar minha história para o Mala, porque ele era repórter e policial. Assim que acabou a sua programação, no momento em que estava saindo à moça disse: – “Mala, este senhor quer falar com o senhor”.
Então eu contei parte da minha história, mostrei a ele a cópia do processo. Ele ficou com a cópia do processo e marcou um dia para eu comparecer no seu escritório. Voltei para a minha cidade muito feliz, com uma nova esperança no coração.
No dia marcado eu sai da minha cidade querida e fui ao escritório do senhor Mala cheio de esperança. Lá ele disse que só poderia fazer alguma coisa por mim se o Rodrigo fosse até o seu escritório e falasse que as afirmações do detetive Alfim são mentirosas e que ele nunca falou tais palavras.
Todas as minhas esperanças acabaram naquele momento, sai daquele escritório chorando. Dormi na rua da cidade de Bragança Paulista.
No dia seguinte, dia 21 de novembro de 2011, a pé e sem destino peguei a BR, rumo à cidade de Atibaia, fui até a igreja católica descansar um pouco.
O homem que era o zelador da igreja foi até lá ver quem estava ali. Ele era uma pessoa mito generosa, nós ficamos horas conversando. Ele disse: – “Esta área tem muito emprego. Aqui do lado tem a fazenda Santa Helena, o administrador de lá é o senhor Edson. Ele é um ex-coronel. Todos que trabalham lá gostam muito dele, lá esta precisando de pessoas para colher laranja, tem restaurante e alojamento”.
Ele me deu a chave do banheiro da igreja e disse: – “Pode ficar aqui. Eu irei falar com o senhor Edson e irei pedir para o padre ligar para ele…”.
Meu Deu como eu fiquei feliz com as palavras daquele homem e pensei: “Um coronel tem muito conhecimento na área jurídica e uma grande influencia. Este coronel vai me ajudar a provar minha inocência”.
No dia seguinte, um dia de sábado eu fiquei por ali aquele final de semana. Na segunda-feira eu fui ate a portaria da fazenda de Santa Helena. O guarda ligou para o senhor Edson e minutos depois ele veio na portaria. As suas primeiras palavras foram: – “Você tem passagem pela policia? Se tem abre o jogo. Aqui conosco é transparência total…”. Eu respondi: – “Tenho passagem. Fiquei 16 anos preso”. Então ele disse: – “Eu já sei de tudo. O povo da igreja está ligando direto para pedir emprego para você. Dia 2 de janeiro, às 8 horas, esteja aqui sem falta”.
Naqueles dias as pessoas passaram a me procurar para saber capinar a chácara. Enfim passei aquele final de ano ali. No dia 2 de janeiro às 8 horas eu estava na portaria da fazenda Santa Helena. O guarda ligou para a sede, logo depois chegou um homem em uma moto e me levou para a sede.
La estava tendo uma reunião com todos os empregados. No final da reunião todos foram trabalhar então ele me levou até o seu escritório. Lá eu contei a minha história e mostrei a cópia do processo para ele. Ele leu tudo e disse: – “Eu já tive em uma situação semelhante a sua. Eu irei te ajudar”.
Ele chamou a sua secretária, a mandou tirar as cópias de todos os meus documentos e também a cópia do processo. E ele prosseguiu dizendo: – “Emprego não tem como eu te dar, porque se eu mandar estes seus documentos para o escritório central eles vão mandar de volta. Aqui é uma firma muito grande porra…”.
Ele me deu os números dos telefones da fazendo e também 50 reais, mandou aquele homem me levar até a igreja. Na nossa despedida ele repetiu suas palavras: – “Eu irei te ajudar…”.
Sai daquela fazenda muito feliz e pensando: “Este coronel vai me ajudar”.
Chegando à igreja peguei as minhas coisas. Fui até o ponto de ônibus e fui para a cidade de Jundiaí, lá sai à procura de emprego. Encontrei com um empreiteiro de obra por nome Max. Ele disse: – “Eu estou precisando de pessoas, lá na obra tem um quarto onde eu guardo as ferramentas, você pode ficar morando lá”.
Fiquei trabalhando com o Max. Arrumei aquele quarto e com o passar dos dias eu passei a supervisionar as obras do Max naquela cidade. Os seus antigos empregados passaram a ter muito ciúme de mim. Não sei o que eles falaram para o Max, só sei que ele me tirou de lá.
Naqueles dias eu telefonei varias vezes para a fazenda de Santa Helena a procura do seu Edson, mas todas às vezes a sua secretaria dizia que ele não estava… Em um daqueles dias eu acertei as minhas contas com o Max e fui até a fazenda Santa Helena. Chagando a portaria procurei pelo Edson. O guarda disse: – “O seu Edson não está e é bom você ir embora daqui”.
Voltei para Jundiaí. As minhas esperanças em seu Edson acabou. Fiquei uns dias nas ruas daquela cidade, uma nova esperança surgiu em minha mente. Irei para Brasília, lá irei escrever uma carta e dessa carta irei fazer varia cópias e vou distribuir em todos os pontos da cidade em busca de justiça.
Chegando ao centro daquela cidade pedi um prato de comida e sai pelas ruas comendo. Perguntei para um senhor: – “Senhor, acha que um homem de 52 anos consegue ir daqui até Brasília a pé?”. Aquele homem respondeu: – “Eu acho muito difícil…”.
Peguei a BR Anhanguera. Pedindo comida nos postos de gasolina, tomava banho e dormia também. Dias após dias se passaram. Cheguei ao final da Anhanguera. Atravessei a ponte e entrei no estado de Goiás pela BR 050, fui até a cidade de Cristalina. Lá eu peguei a BR 040. Com 38 dias eu cheguei à estrada Juscelino Kubitschek.
Brasília, uma capital muito esquisita, umas avenidas muito largas, cheias de pé de manga e muito moradores de ruas. Andando pela avenida cheguei a uma praça, sentei em um banco, peguei a minha pasta e iniciei a escrita da carta… Logo depois iniciei uma palestra com um morador de rua. Falei para ele o objetivo da minha visita a Brasília.
Ele disse: – “Do jeito que você está não vai chegar a lugar nenhum. Primeiro você precisa procurar um albergue e um emprego. Depois você coloca o seu projeto em dia”.
Pensei em suas palavras e cheguei à conclusão que estava certo. Agradeci muito a ele e fui à procura de um albergue. Só que do centro de Brasília até o albergue tem uns 20 km. Quando eu tive a palestra com aquele morador de rua era umas 15 horas, fui chegar ao albergue no dia seguinte à tarde.
O dia que cheguei ao albergue era uma sexta-feira, sai à procura de emprego. Em um daqueles dias encontrei uns moradores de rua e começamos a beber cachaça. À tarde eu não voltei para o albergue. Umas 10 horas da noite dois moradores de rua iniciaram uma discursão, um deles deu um tapa na cara do outro que chegou a estralar…
Eu fiquei muito nervoso com o ocorrido. Ali tinha uns 10 homens, todos ficaram revoltados comigo. Desafiei todos para uma luta, eles tentaram me pegar. Eu sai correndo em uma grande carreira e corri uns 20 minutos, então eu deitei em frente a uma barraca de pastel. Aquela noite estava muito fria e eu deitado naquele chão frio eu estava tremendo.
Olhando para a casa de frente tinha um carro entrando na garagem imediatamente me levantei e me aproximei daquele carro.
O jovem que estava o carro ficou muito cismado. Assim que eu cheguei bem próximo eu disse: – “Boa noite meu amigo, você tem uma coberta velha pra me dar, pois não estou aguentando o frio…”. E ele respondeu: – “Espere um pouco, vou por o carro na garagem”. Quando ele colocou o carro na garagem veio e nós nos sentamos de frente da sua casa. Ele perguntou o meu nome, a cidade onde eu nasci à cidade onde eu moro e o que eu estava fazendo em Brasília.
Contei para ele toda a minha história, ele disse: – “Paulo, meu nome é Marcelo, tenho 30 anos. O nome da minha esposa é Gerusa, ela tem 28 anos. Somos do estado da Paraíba. Fomos viciados em crack. Hoje por misericórdia de Deus somos membros da igreja batista e temos um afilha de oito anos. Elas são o meu tesouro Paulo…”.
Ele mandou a Gerusa esquentar a sopa e pegar duas cobertas, logo depois, Gerusa trouxe a coberta e a sopa. Assim que acabei de jantar ele disse: – “Paulo, amanhã eu não vou estar em casa, mas depois de amanhã estarei, venha aqui para nós palestrarmos”.
Deitei de frente daquela barraca de pastel com uma nova esperança no coração. No dia seguinte voltei para o albergue e no dia seguinte para a casa de Marcelo. Ele fazia capas de bíblia e vendia pela internet. A Gerusa era enfermeira. Eu passei a trabalhar com ele, Nós ficávamos o dia inteiro escutando hinos e falando da palavra de Deus.
Em um daqueles dias ele leu a cópia do meu processo, no fim ele disse: – “Paulo, eu nunca estudei direito, mas tenho muita vontade de te defender, pois como uma pessoa comete um assassinato e vai ficar transitando nas mediações do local do crime…”. Eu disse: – “Marcelo, eu só fui preso porque não estava sabendo de nada… E também aqueles policiais que me prenderam eram marginais da pior espécie”.
No inicio do ano de 95 veio uma grande investigação sobre quem eram os policiais da cidade de Atibaia. O delegado intitulado Marco Vinício e alguns dos detetives foram presos por roubos de carga e vários assassinatos, pois referente a tais esta nos arquivos do programa da linha direta da tv Globo.
Eu prossegui dizendo: – “Quanto ao detetive Alfim por meados do ano de 95 foi encontrado morto dentro de sua casa. Não sei se foi assassinato ou suicídio, não sei como uns homens tão estudados e intelectuais como os desembargadores dão tanta credibilidade as palavra de tais homens…”, e eu continuei: – “Querido amigo Marcelo, irei à luta até o fim dos meus dias em busca de justiça. Não estou em busca de indenização, mas sim tirar a mascara que aqueles bandidos colocaram no meu rosto”. Então o Marcelo disse: – “Paulo, escreva uma carta bem detalhada e traga para mim, irei corrigir ela e irei manda-la para os deputados, junto com a cópia do processo, por que uma carta sua só tem peso junto com a cópia do processo…”, ele prosseguiu dizendo: – “E tem outra coisa. Você traz seu processo pra cá e vai embora pra a sua cidade”.
Naqueles dias eu estava com muita saudade dos meus familiares, do povo paulista e da minha cidade Jandira.
Em um daqueles finais de semana fiquei no albergue e escrevi a carta. Na segunda-feira entreguei para o meu amigo Marcelo e falei: – “Amigo, ai esta a carta junto com a cópia do processo. Agradeço a vocês por tudo. Quanto a mim estou voltando para são Paulo”, a sua esposa disse: – “Irmão Paulo, no próximo sábado tem uma festa em nossa igreja, vamos conosco e depois o senhor vai embora”.
Aceitei o convite da minha querida irmã, no sábado logo de manhã arrumei as minhas coisas, fui até a sala da assistente social, dei baixa na minha ficha e fui para casa do Marcelo. Chegando lá ele tinha saído, deixei um bilhete para ele e fui embora.
Chegando a Jandira fui direto à casa do meu irmão José Berto de Lima Irmão, tanto ele como a sua família ficaram muito felizes com a minha presença. Ele disse: – “Paulo, a sol técnica esta com uma grande obra em Curitiba PR, lá tem restaurantes e alojamentos”. Ele prosseguiu dizendo: – “Se você quiser ir trabalhar na obra amanhã eu falo com o meu sócio Orestes”. Eu falei: – “Meu irmão, é tudo o que eu quero neste momento, pode falar com o seu Orestes”.
Dias depois a Sol Técnica ligou para a casa da minha mãe pedindo para eu comparecer no escritório para entrevista. No dia seguinte eu fui até lá e fui entrevistado pela esposa do seu Orestes, a dona Cristina.
A dona Cristina disse: – “Seu Paulo, a Sol Técnica está fazendo uma montagem de cobertura nos pátios da empresa Renault. O salario é mil e duzentos reais. Lá tem serviço por uns seis meses. O Orestes é o diretor de obra, o encarregado geral é o Aldo. Ele é um homem muito exigente, mas nós sabemos que o senhor é um homem muito trabalhador”. Ela pegou os meus documentos, fiz exame médico e então foi marcado o dia da viagem. No dia 15 de outubro de 2012 às 8 horas da manhã nos estamos em cinco homens, pronto para a viagem. A dona Cristina entregou as nossas passagens e disse: – “Quando vocês chegarem a Curitiba tem uma van esperando vocês”.
Fomos direto a rodoviária da Barra Funda, chegando lá eu fui ao banheiro, quando eu sai de lá não encontrei mais ninguém. Aquela viagem estava marcada para as 12 horas. Como ainda faltavam 2 horas, pensei que eles tinham ido a um bar tomar uma cachaça. Fui para a plataforma. Deram 11 horas, 11h30min, 12 e não chegou ninguém. Naquele momento encostou um ônibus na plataforma. Então eu mostrei a passagem para o motorista e perguntei se o ônibus para Curitiba realmente sai dali, o motorista disse: – “Você esta na plataforma certa. Mas este ônibus sai da rodoviária do tiete”.
Sai dali apavorado, sem nenhum centavo no bolso, conversei com os guardas do metro, eles me deixaram passar. Chegando à rodoviária do tiete, a empresa me deu uma passagem que saia às duas horas da tarde. Cheguei a Curitiba no inicio da noite. Liguei para o meu irmão, para pegar o endereço, mas o seu telefone estava na caixa postal.
Andando nas ruas de Curitiba lembrei que a dona Cristina falou que a Sol Técnica estava fazendo cobertura para os carros ficar embaixo. Então sai a procura de uma empresa que tinha muitos carros, um guarda falou os nomes de varias empresas. Por fim ele disse: – “A Renault”. Então eu lembrei e disse: – “Amigo, é esta mesmo, é para lá que eu estou indo…”, Ele disse: – “A fábrica da Renault fica em São José Dos Pinhais. Uma cidade vizinha daqui é muito longe daqui até lá”.
Então ele me ensinou o caminho, umas 3 horas da madrugada eu cheguei até a portaria da Renault. Assim que amanheceu o dia eu fui até a portaria, o guarda perguntou: – “Você sabe o número do telefone deles?”, então eu passei pra ele o número do telefone do meu irmão, ele ligou para o meu irmão e pegou o número do telefone do seu Orestes, uns 20 minutos depois chegou um senhor na portaria a minha procura. Dai ele me levou para o alojamento, lá nós começamos a montar a minha cama, ele disse: – “O meu nome é Valdir, eu e o Aldo somos encarregados Gerais e temos mais dois encarregados, o Luiz e o Marcio. Você vai trabalhar com eles. Se você for um homem trabalhador fica com nós, ao contrário eu te mando embora, o mercado de trabalho é grande…”, Eu falei: – “Seu Valdir, eu tenho 52 anos e nunca fui mandado embora de uma empresa”, Ele disse: – “Pra tudo tem a primeira vez, porra”.
Assim que acabamos de montar a cama, fomos para a obra. Ali tinha uns 30 trabalhadores. A maioria era da cidade de Itajaí, estado de Santa Catarina. Fiquei assustado com o tamanho da obra e iniciei o meu primeiro dia de trabalho. Eu tinha e tenho muito orgulho da empresa Sol Técnica. Por quê?
Porque quando ela foi fundada o meu irmão foi até a casa da nossa mãe e disse: – “Graças a Deus, quando o meu irmão sair da cadeia ele tem um firma para trabalhar…”.
Quando eu lembrava essas palavras eu só trabalhava correndo e com muito zelo. Com o passar dos dias passei a sentir aquele canteiro de obra como a minha própria casa.
Tanto o diretor da obra como os encarregados ficaram emocionados ao ver a forma como eu trabalhava. O Aldo disse: – “Eu só precisava de 10 Paulos…”.
Dias após dias se passaram. Todas as semanas chegavam homens de São Paulo. Dia 21 de dezembro nós acabamos a primeira quadra. O seu Orestes deu férias de 10 dias para todos. O Aldo comprou presente para todos e disse: – “A nossa festa vai ser dia 5 de janeiro. Esta vai ser só para merecedores”.
À noite eles nos levaram ate a rodoviária. Deu passagem para todos nós e cada um foi para as suas casas com um aviso que quem não voltasse no dia 2 de janeiro estava despedido.
Chegamos no dia 2 de janeiro, uma boa parte não voltou. Naqueles dias os funcionários só falavam da festa dos merecedores. No dia 5. Não aconteceu nada. No pagamento faltaram horas extras e foram descontadas as férias de 10 dias. Naqueles dias ninguém fez horas extras. O Aldo ligou para a Sol Técnica, eles falaram que o erro foi do contador e não tinha como contestar naquele momento, porque o contador estava de férias, mas no próximo pagamento eles iam incluir todas as horas extras.
Naqueles dias o clima estava tenso na empresa. Um jovem por nome de Fabio, antes era colega do Aldo, mas agora ele se tornou o seu pior inimigo e tinha como apoio uns 30% dos homens. Aquele lugar estava como um presidio era só ódio…
Na ultima semana do mês de fevereiro de 2013, o Aldo convocou todos para trabalhar no sábado, pois ele estava com pressa, a obra estava atrasada. Em uma desfeita ao Aldo, o Fabio e os seus apoiadores não foram trabalhar.
Aldo ficou indignado. Foi até o restaurante e cortou o almoço deles. Com esta atitude do Aldo, Fabio colocou todos contra Aldo.
Na Segunda-feira eles iniciaram uma grave e uns 70% daqueles homens não foram ao trabalho. O Aldo foi ao alojamento falar com eles, mas o Fabio disse: – “Nós só vamos trabalhar depois do comparecimento do diretor da obra, pois nos precisamos falar com ele”. O Aldo disse: – “gente, o seu Orestes esta em São Paulo. Ele mandou falar para vocês que ele esta muito ocupado, não pode vir aqui nesse momento”. O Fábio disse: – “Não tem acordo, nós só vamos trabalhar depois de uma palestra com ele!”.
No dia seguinte depois do alvoroço, o Aldo veio ao alojamento com quatro seguranças e mandou embora, tanto o Fabio como os seus apoiadores. Como naqueles dias eu era um homem totalmente dominado pelas drogas e pela cachaça, um homem infeliz e desequilibrado, ao ponto de mudar de ideia a qualquer momento, tomei uma decisão sem pensar… Pedi para o Aldo incluir meu nome naquela lista, e assim perdi uma oportunidade de ouro de estar naquela empresa até os dias de hoje. Mas é como a bíblia diz: “Há tempo para todas as coisas”.
Aproveito a oportunidade e peço desculpas para a dona Cristina, seu Orestes e Aldo. Agradeço muito por tudo que vocês fizeram por mim. Sonho constantemente trabalhar com vocês. Meus agradecimentos a todas. Obrigado de coração…
Que o Deu pai de nosso senhor Jesus Cristo esteja com vocês. Amem!
Vim embora para a minha cidade amada. Naqueles dias eu estava totalmente dependente dos vícios. Não tinha mais disposição para trabalhar, nem lutar pelos meus ideais. Tinha perdido totalmente a minha alta estima, na realidade, eu estava no fundo do poço.
No inicio do mês de agosto daquele ano em um desabafo com a minha melhor amiga, eu disse: – “Mãe, irei à busca de uma clinica, pois uma pessoa viciada é doente. Irei à busca da cura. Lá na clinica irei escrever uma carta e vou envia-la para o mundo inteiro em busca de justiça”. E minha mãe disse: – “Vocês esta certo meu filho, vá se tratar. Só que eu não posso te visitar, pois já estou muito velha”.
Naqueles dias eu arrumei minhas coisas e fui ao fórum, assinei o livro, peguei a cópia do processo e peguei o trem rumo a São Paulo. Estando lá eu mudei de ideia, peguei a rodovia Fernão Dias rumo a Minas Gerais. Dia 9 eu estava passando pela cidade de Vargem, como era véspera dos dias dos pais me deu uma vontade grande de ir à casa dos meus filhos, mas eu fiquei com vergonha, por que eu estava como andarilho.
Vargem é a ultima cidade do estado de São Paulo, 7 km depois indo pela Fernão Dias vem à cidade de Extrema, a primeira cidade do estado de minas gerais. Chegando a Extrema decidi ficar ali, arrumar um emprego e iniciar a minha vida próximo dos meus filhos.
Andando pelas ruas de Extrema, encontrei com um andarilho. O seu destino era a cidade de Itajubá MG, nó iniciamos uma palestra e começamos a beber cachaça. Ele falou tantas coisas boas incluindo emprego na cidade de Itajubá que eu acabei decidindo pegar a estrada com ele. Na estrada bebemos tanta cachaça que teve momentos que eu nem sabia onde eu estava.
Dia 11, de noite, nós chegamos à cidade de Cambuí, dormimos na rodoviária.
No dia seguinte acordei com uma grande angustia e iniciei uma oração em voz alta, eu dizia: – “Meu Deus eu não quero essa vida, já não estou aguentando mais esta vida, se for pra viver assim eu prefiro a morte!”. Assim que acabei de falar estas palavras peguei as minhas coisas e sai só. Peguei uma estrada de terra e sem destino antei o dia inteiro e a noite eu dormir na entrada de uma fazenda. Logo de manha, peguei a estrada, umas duas horas da tarde sai da estrada principal e peguei uma estrada na intenção de chegar a alguma casa e pedir um prato de comida. Uns 600 metros depois cheguei a uma casa. Pensei que ali não morava ninguém. Não tinha cachorro, nem gato, nem galinhas e nenhum rastro de gente…
Tinha umas bananas, eu sai à procura de uma lata ou uma panela velha para eu cozinhar aquelas bananas e matas a minha fome. Como não encontrei acabei arrombando a porta. Foi ai que cheguei à conclusão que ali morava gente, fui direto a geladeira, peguei todas as carnes, na saída eu fui e peguei uma caixinha cheia de bijuterias e coloquei na minha sacola.
Sai dali às pressas, peguei a estrada principal, uns 2 km depois fiz um fogo, assei a carne e comi. Como eu estava muito cansado deitei e dormi.
Acordei no inicio da noite, sai sem destino e com muito ódio. Logo depois fui preso.
No dia seguinte, 14 de agosto de 2013 eu estava todo machucado dentro de uma cela junto com 16 presos, no presidio da cidade de Pouso Alegre MG. Pra fugi da depressão iniciei a escrita de um livro. No inicio do mês de janeiro de 2014 cheguei ao seu fim com 250 folhar escritas, mandei para minha amiga, Cristiane, que mora na cidade de Itapevi, corrigir e digitar. Mas o diretor daquele presidio não autorizou a saída do livro.
No inicio do mês de fevereiro eu fui condenado a dois anos de regime aberto. Com a minha condenação em São Paulo era 24 anos, e eu já estava cumprindo 21 anos. Estava no direito do livramento condicional. Escrevi uma carta para a advogada do presidio explicando a minha situação processual. Dias depois fui requisitado para a entrevista, ela fez o pedido e mandou para o juiz.
Naqueles dias comecei a ler a bíblia e constantemente orava ao Deus criador do céu e da terra, pedindo a minha liberdade. Nos dias finais do mês de junho chegou o meu alvará. Pra a minha surpresa só constava a minha condenação de Minas Gerais.
Aquele foi um grande momento de felicidade dos meus companheiros de sofrimento, só que a diretoria prisional estava puxando a minha ficha e para mim eu estava procurado em São Paulo, pois já tinha passado um ano que eu não tinha comparecido ao fórum para assinar o livro. Um jovem disse: – “Seu Paulo, a pessoa certa para corrigir seu livro é a minha ex-professora, Dona Ana, ela da aula na escola no bairro Do Chapadão”.
A minha ficha sai sem impedimento. Sai em liberdade com outra mente, só que totalmente enrolado com a justiça.
Naqueles mesmos dias fui à procura de Dona Ana, ela disse: – “Eu só preciso de um tempo, mas eu corrijo e digito suas escritas…”.
Meus agradecimentos ao povo mineiro, junto com o meu pedido de desculpas.
Eu amo vocês.
Vim embora, como eu estava com muito medo de voltar para a prisão, fui direto para a casa das minhas irmãs, na cidade vizinha de Itapevi. Os meus familiares ficaram muito felizes com a minha presença. O José Irmão me deu uma casa na qual moro até hoje, aqui na cidade de Itapevi. A gradeço muito a Deus, pois um dos meus sonhos era ter um lugar pra morar.
Dias depois chegou uma intimação na casa da minha mãe pedindo o meu comparecimento no fórum. Com muito medo e sem saber o que falar eu fui até lá. Fui atendido pela senhora Sueli, ela perguntou onde eu estava e porque eu não tinha comparecido para cumprir com as minhas obrigações.
Eu pedi um prazo de dois dias e foi concedido. Em casa eu escrevi uma carta explicando tudo. No dia seguinte minha irmã foi ate o fórum e deixou em cima da mesa dela… Quanto a mim, fui trabalhar com o José Irmão na empresa Lucas Berto de Lima, que fica na Rua Alberto Sampaio, nº159, bairro Santa Catarina, SP.
Dias após dias se passaram. Eu só tinha em mente o meu livro, como ele iria ficar depois de passar pelas mãos de uma professora de português. Os meus amigos fizeram uma pesquisa pela internet e acharam o telefone da escola onde a Dona Ana é professora. Eu liguei para ela e ela pediu o endereço, pois o meu livro já tinha sido corrigido e digitado, eu dei o endereço da empresa e fui atrás de uma editora. A felicidade não foi só minha, mas foi também do meu irmão e do meu sobrinho que trabalhava conosco.
No inicio do mês de setembro o meu irmão chegou com um envelope nas mãos, chamou seu filho, olhou para mim e perguntou: – “Posso abrir?”, eu muito emocionado e cheio de ansiedade disse que sim.
Na primeira pagina o titulo do livro: “Uma carta para o mundo, em busca por justiça”.
No final daquele dia a minha alegria virou tristeza, pois não conseguia entender nada do que estava escrito; Estava uma verdadeira bagunça e as copias originais não existiam mais…
Fiquei com muito desgosto, pois o meu sonho tinha acabado. Só de pensar em escrever aquilo tudo de novo dava dor de cabeça. Passei a beber muita cachaça.
Dias depois sai da empresa e fiquei trabalhando como ajudante de pedreiro e dei inicio a escrita desta carta, com ajuda de Deus no inicio de 2016 irei enviar a copia para o mundo em busca por justiça, por favor, dê credibilidade as minhas palavras, pois são verdadeiras…
Pelo amor de Deus me ajude, pois juntos podemos reabrir este processo e venha terceira revisão criminal, junto com as verdades… Não estou atrás de indenização, mas sim de provar para os meus netos e netas que sou um homem que cometi muitos erros, mas não sou um assassino monstruoso cruel, e não tenho culpa pelas desgraças que ocorreram com seus pais e mães…
Meus agradecimentos aos meus irmãos e irmãs, por ter me visitado todos esses anos, meus agradecimentos a minha querida mãe…
Meus agradecimentos às mães dos meus sobrinhos…
Meus agradecimentos aos meus sobrinhos. E o meu pedido de perdão aos meus filhos e filha por não ter criado eles.
Meus agradecimentos a vocês que estão acabando a carta…
Que o grande Deus, o criador do céu e da terra, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos nós, amém!
Itapevi, 5 de dezembro de 2015.
Atenciosamente,
Paulo Cicero de Lima.