Texto: Bruna Obadowski
Fotos: Lucas Ninno e Ahmad Jarrah
As salas de aula da universidade já não cabiam mais seus anseios, quando decidiu deixar tudo e partir para o mundo. Sua paixão foi crescendo e com o tempo, não tinha mais duvida que este era o caminho a tomar. Sem titubear, Lucas Ninno comprou uma passagem só de ida para o Chile, onde ficou pouco mais de um ano e descobriu a essência que o despertara desde o primeiro encontro com a fotografia.
O Chile foi um grande laboratório de formação, em diversas redações que o levaram a diferentes experiências com fotojornalismo, ao lado de profissionais veteranos. Lá descobriu o caminho da fotografia que passou a seguir desde então, contar histórias. Depois do Chile, decidiu viajar pela América Latina e passou pelo Uruguai, Argentina e Paraguai, que resultou na exposição Meu Amor, América.
A vida de Ninno é atravessada cotidianamente por várias histórias, muitas delas não passam despercebidas à sua câmera. Foi o que aconteceu em mais um dia de trabalho. Enquanto fotografava para um job institucional, ele conheceu Henrique, que maquiava uma empresária. Conversa vai, conversa vem, ele descobriu que Henrique, com vários outros amigos, se transvestiam para ir à algumas festas discotecar e curtir.
No sábado à noite, Ninno foi até a casa de Henrique, onde com mais outros dois amigos se produziam para a festa. Acompanhou com olhar sensível a transformação de Henrique em Biancca, Rodrigo em Rebecca e João Paulo em Alyysa, desde colocar perucas, o trabalho da maquiagem, as roupas, acessórios, as relações entre elas.
João Paulo é o mais novo a transvestir-se entre eles, com a ajuda de Biancca e Rebecca, ele vai aprendendo como se montar. Quando se torna Alyysa, conquista uma beleza feminina singular que chega a ser surpreendente.
Ninno relatou que durante a documentação ele se portou mais como um observador, deixando que tudo fluísse sem a sua intervenção. Assim, seguiu com elas até a festa em uma casa noturna da cidade, com total liberdade para registrar. Dessa forma, nasce este trabalho que segue em sua própria narrativa:
“Vamos descomplicar o complicado. Misturar o caldo, as línguas e os dissabores. Ver a vida como ela é. Bagunçada como um quarto de adolescente. Bela feito um poster velho da sua banda preferida. Somos o que somos e o que criamos. Nossos medos, desejos e personagens. E não há revolução mais vulcânica que estes vinte e poucos anos, onde o motor já amaciado alcança o giro máximo sem engasgar. Ontem saí de casa pra conhecer outro mundo, de Bianca, Alyssa e Rebeca. Tão diferente do que imaginava. Mais simples do que pensava. Esta é uma história trivial, sobre um sábado a noite e três garotas que só querem dançar.”