Amor pra toda vida

Texto: Bruna Obadowski
Fotos: Welliton Barbosa

“Havia um muro alto entre nossas casas.
Difícil de mandar recado para ela.
Não havia e-mail.
O pai era uma onça.
A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por
um cordão
E pinchava a pedra no quintal da casa dela.
Se a namorada respondesse pela mesma pedra
Era uma glória!
Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da goiabeira
E então era agonia.
No tempo do onça era assim” (Manoel de Barros*).

Manoel de Barros muito me lembra Seo Teodoro e dona Maurícia nos anos 50, quando naquele vasto chão de barro andavam se olhando por entre a janela, onde a prosa quase não se tinha. O primeiro beijo veio após o namoro de dois anos, este que deu estímulo e coragem para Teodoro intuir que era amor pra toda a vida.

Ainda adolescente pediu a sua tia Matilde que fosse até o pai de Maurícia pedir-lhe a mão. A tradição interiorana se materializou oito dias após o pedido. Tratou logo de “roubar” dona Maurícia e trazê-la de Nossa Senhora do Livramento para se casarem em Cuiabá, em 1966. De lá pra cá foram várias moradias, 11 filhos, 10 netos e um companheirismo sem fim nem vão.

Duas conexões, igualmente admiráveis, intensas e viscerais. De um lado o casal com quase 52 anos de troca e companheirismo, de outro, um fotógrafo que há 20 anos metamorfoseou, por meio de seu olhar, sua vida na roça e de muita pobreza em potência fotográfica.  O encontro entre Welliton e o casal Teodoro e Maurícia não poderia deixar de lado a bela e admirável trajetória do casal, tampouco o olhar sensível e claramente apurado do fotógrafo. Foi um encontro poético que rendeu o ensaio de 50 anos de casamento.

A poesia de comemorar o dia dos namorados não seria a mesma, não fosse o amor que rouba, que cuida, que semeia e que transcende as futilidades e dificuldades do quotidiano. É um amor que nos inspira e, que aqui é retratado com convicção do espectador sobre as provas incontestáveis produzidas pela fotografia, de que o tempo junto é o melhor presente de namoro.

*Poema de Manoel de Barros extraído do livro “Tratado geral das grandezas do ínfimo”, Editora Record – Rio de Janeiro, 2001, pág. 17.

Para conhecer o trabalho de Welliton Barbosa: @welliton.barbosa e https://www.facebook.com/WellitonBarbosaFotografia/?timeline_context_item_type=intro_card_work&timeline_context_item_source=100002094484616

Inscreva-se
Receba as últimas atualizações em seu email