Texto: Bruna Obadowski e Kentsel
Fotografias: Kentsel
Início de março de 2020 e Tokyo, a cidade que nunca para, parecia estar reagindo com naturalidade a expansão da Covid-19. O governo japonês vinha, até então, adotando sutilmente políticas restritivas. Alguns pontos turísticos já fechavam e a recomendação para que a população evitasse aglomerações era uma das primeiras em todo o mundo, seguindo o mesmo caminho da China. A rotina se mantinha, mas as máscaras que já eram comuns na cultura japonesa passaram a ser ainda mais populares. O surto ainda não era considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como Pandemia, mas estava prestes. O mundo inteiro já acompanhava notícias da doença, que se espalhava paulatinamente, dia após dia.
O Japão já registrava muitos casos de Covid-19 e sua população já começava a se isolar, o movimento nas ruas da antiga capital imperial, Kyoto, já era relativamente baixo, os pontos turísticos já se encontravam vazios. Alguns dias depois, em 13 de março, o Japão já teria mais de 700 pessoas contaminadas e mais de 20 mortes.
Enquanto a expansão do novo coronavírus avançava no Japão, em Seoul, capital da Coreia do Sul, não era diferente. A metrópole já constava como um segundo epicentro da Covid-19 nessas mesmas datas, início de março. No entanto, o governo sul coreano adotou uma estratégia bastante diversa dos seus vizinhos, optando por não realizar um grande isolamento, sem fechar, até então, nenhum ponto turístico.
Passaram a realizar exames em massa, com mais de 220 mil amostras até 11 de março. A qualquer momento, ao caminhar pelas ruas da capital, você poderia ser convidado a realizar um teste de covid-19. Apesar da não obrigação do isolamento social na Coreia – estratégia de contenção que já vinha sendo tomada pelo governo japonês – era perceptível como as ruas da capital se encontravam vazias, os famosos templos do antigo império estavam dominados pelo silêncio de quem já se resguardava esperando a notícia de que se tratava de uma grande Pandemia.
À medida que cidade ia parando, qualquer situação era motivo de cautela, pois o coronavírus avançava para além das fonteiras. Um dos voos internacionais que decolavam diariamente do Aeroporto Internacional de Seoul chamou a atenção da tripulação momentos antes da decolagem. Tratava-se do voo Air Asia que sairia de Seoul com destino a Bangkok, na Tailândia. Nele, estava uma passageira com suspeita de Covid-19 identificada naquele instante. A tripulação optou por não levantar voo até que a paciente passasse por testes para confirmar ou não a contaminação.
Alguns minutos depois a equipe médica do aeroporto de Seoul entrou no avião e realizou testes rápidos com a passageira que teve o exame positivo para Covid-19. O avião teve de ser evacuado e passado por desinfecção, aos passageiros coube esperar e se cadastrar para que o governo da Tailândia, destino do voo, pudesse acompanhar cada um durante sua estadia na nação.
A Tailândia, na primeira dezena de março, vinha sofrendo pouco com o coronavírus, no entanto, já era visível a população engajada nos cuidados básicos de saúde e no constante uso das máscaras. A rotina parecia não ter se alterado drasticamente.
Os dias se passavam em Bangkok e as coisas estavam um pouco diferente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarava a doença como uma grande Pandemia e o Estado começava a fechar, na segunda dezena de março, diversos pontos turísticos, além de empresas de alimentação, que foram proibidas de servir comida dentro do restaurante. As aglomerações típicas das feiras continuavam bastante comuns, algo intrínseco à cultura dessa nação.
Laos, uma das poucas nações comunistas ainda existente, mesmo sem nenhum caso de Covid-19 registrado em meados de março, a população já se preparava com máscaras e uma fiscalização constante na entrada de qualquer estabelecimento.
Laos é famosa por sua simplicidade e simpatia local. Nas fotografias, um pouco da simplicidade do cotidiano dessas pessoas e a valorização da beleza que em breve podemos contemplar, tão logo os dias de isolamento social não nos forem mais necessários.
Sobre o Fotógrafo
O trabalho de Kentsel é um grande documento histórico desse momento de Pandemia. Não só isso, mas uma fotografia que compreende uma expressão,
acompanhando as transformações dos votos da fotografia renovados com a arte.
Há aqui o lugar da fotografia-expressão, que é latente na sua particularidade estética, impossível não compreender como parte do manuseio delicado de sua Leica Q-P. Este trabalho apresenta a potência das formas de perceber e registrar mudanças de hábitos sociais dentro de um perídio delicado provocadas por uma pandemia.
Kentsel apresenta uma alquimia simbólica nas fotografias preto e branco, além da sutileza na simplicidade sofisticada das fotografias coloridas. Ele, mochileiro apaixonado por arquitetura, ruas e pessoas ao redor do mundo não poderia nos dar algo mais singelo que a presentificação da arte de um continente que passa por imensos desafios.
Para saber mais: Instagram @Kentsel.s / para fotografias analógicas @Kentsel.35mm e/ou picbabun.com/kentsel.35mm