Texto: Bruna Obadowski
Fotos: Ahmad Jarrah
No atual contexto de instabilidade política e econômica que vive o Brasil, é significativa a quantidade de produções audiovisuais sendo realizadas distantes dos grandes centros. Ainda que, o volume de investimentos esteja muito aquém do que se considera necessário para promover uma forte indústria criativa, alguns estados nunca tiveram em sua história tantas obras audiovisuais sendo produzidas, viabilizadas por políticas públicas de impulsionamento do setor, que conduzem ao aprimoramento profissional, estético, político e movimentam de forma fundamental a economia, gerando emprego e renda. Mais que isso, potencializam a cultura, mudam percepções e valores, ampliando o imaginário humano.
Em Mato Grosso, o cinema vive um momento de efervescência, com a realização de diversas séries, documentários, ficções, curta e longa-metragem produzidos por várias gerações de autores, que levaram um setor que estava a míngua a se re-oxigenar, possibilitando o estado passar do status de receptor e reprodutor para o de pensador e produtor. São fotógrafos, diretores, produtores, técnicos, atores que contribuem no rompimento de paradigmas no segmento, à medida em que o evoluem profissionalmente atribuindo qualidade ao produto final.
Caminhando nesse sentido, O Pantanal e Outros Bichos, dirigido por Amauri Tangará, coroa esse expressivo momento do cinema mato-grossense. A série, que está em período de filmagens, já é considerada a maior obra de ficção do estado, compreendendo 26 episódios com treze minutos de duração cada. O belo bioma pantaneiro é palco da série, que buscou unir elementos em sua narrativa que potencializam a história e a cultura regional.
Mitos populares como Curupira, Boitatá, Negrinho D’água, Mãe do Morro e Mapinguari ganham vida em um precioso trabalho de arte de Raimundo Rodrigues, que atuou em projetos como A Pedra do Reino e Velho Chico, e transferem a magia da história para a fotografia, sob direção de Guilhermo Medrano, levando a uma dimensão estética que transita entre o mundo real e a fantasia.
A Lente apresenta um pouco da série O Pantanal e Outros Bichos, através de fotografias de Ahmad Jarrah, que abordam possibilidades estéticas materializadas a partir da produção. Nesse contexto, o cinema é entendido como um elemento mediador das relações, onde a equipe estabelece trocas com a comunidade nativa, potencializando a cultura, a natureza e a própria narrativa visual que se manifesta no refinamento da percepção e na poética do olhar.
A série é um exemplo de como o cinema tem a força de unir diferentes gerações e formações, abrindo um espaço para a troca de conhecimentos. Há um movimento equilibrado entre a valorização de profissionais locais e a participação de artistas de outros estados. Roberto Bonfim, ator global com grande currículo, é sem dúvida, um estímulo para todos os atores que contracenam juntos. Vale dizer o mesmo do diretor Geraldo Moraes, que não hesitava em compartilhar sua larga experiência com quem quer que estivesse ao seu lado. Geraldo partiu em sua jornada final dentro do set, e nos deixa com os corpos efervescentes para continuar seu legado de pensar e fazer cinema pelo interior do Brasil.